sábado, 22 de março de 2025

"Renovo" - Poema de Stéphane Mallarmé


Viggo Langer (Danish painter, 1860-1942), A Forest in Springtime, 1925.



Renovo


Doentia, a primavera expulsou tristemente
O inverno, a estação da arte calma, o lúcido
Inverno, e este meu ser que um sangue morno inunda
De impotência se estira em um bocejo lento.

O meu crânio amolece em crepúsculos brancos
Sob o ferro em tenaz, como um túmulo antigo,
E eu, triste, eis-me a errar pelos campos seguindo
Um sonho belo e vago, entre a seiva estuante,

Depois cedo ao odor das árvores, cansado,
Com a face a cavar uma fossa ao meu sonho,
E mordendo os torrões onde nascem lilases,

Aguardo, a abismar-me, o meu tédio a evolar-se...
- Entretanto o Azul, sobre a sebe e o alvor,
Ri das aves em flor ao sol a chilrear. 


Stéphane Mallarmé, em "Poesias". 
Tradução, prefácio e notas de José Augusto Seabra
Lisboa: Assirio & Alvim, 2005. 
 

 
Viggo Langer, Springtime on a Country Lane, 1917.


Mallarmé ou Valéry


Fiz uma charada:
Não sabia que isto é hoje
A poesia pura.


Afrânio Peixoto, Miçangas: poesia e folclore.
São Paulo: Ed. Nacional, 1931.


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