Estações do Ano
Primeiro vem Janeiro
Suas longínquas metas
São Julho e são Agosto
Luz de sal e de setas
A praia onde o vento
Desfralda as barracas
E vira os guarda-sóis
Ficou na infância antiga
Cuja memória passa
Pela rua à tarde
Como uma cantiga
O verão onde hoje moro
É mais duro e mais quente
Perdeu-se a frescura
Do verão adolescente
Aqui onde estou
Entre cal e sal
Sob o peso do sol
Nenhuma folha bole
Na manhã parada
E o mar é de metal
Como um peixe-espada
Sophia de Mello Breyner Andresen,
in "O Nome das Coisas", 1977.
Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto em 1919, mas viveu grande parte da sua vida em Lisboa, onde morre em 2004. Considerada como uma das maiores escritoras portuguesas, foi a primeira mulher a receber o Prémio Camões.
O Mar é transversal à vida e obra da poeta: a Praia da Granja subentende os primeiros anos da sua vida e adolescência; o Algarve a vida adulta e a passagem do Mar revolto do norte para o soalheiro sul. A Grécia, mais do que uma idade, representa o encontro com um ideal de beleza que percorre toda sua poesia, porque o gosto pela Grécia parte do seu gosto pelo Mar, levando-a a apaixonar-se pela cultura helénica muito antes de visitar a Grécia. (daqui)
Executou variadíssimas obras que marcaram a pintura da sua época. Merecem destaque Amor e Psique, os painéis decorativos do Palácio da Bolsa e a Alegoria às Cortes de 1820, no Palácio de S. Bento. De sua autoria são igualmente o pano de boca e decoração do Teatro Politeama, em Lisboa. (daqui)
Porque nasci no Porto
Ali estão as tílias enormes, as manhãs de nevoeiro, as praias saturadas de maresia, os rochedos cobertos de algas e anémonas, as primaveras botticellianas, os plátanos, a cerejeira, as camélias.
Ali o rio, as casas em cascata, os barcos deslizando rente à rua nas tardes cor de frio do inverno.
Ali o cais, a Ribeira, os rostos, as vozes, os gritos, os gestos. Uma beleza funda, grave, rude e rouca. Escadas, arcadas, ruelas abrindo para o labirinto do fundo do mar da cidade. E, aqui e além, um rosto emergindo do fundo do mar da vida.
Porque ali é a cidade onde pela primeira vez encontrei os rostos de silêncio e de paciência cuja interrogação permanece.
Porque ali é o lugar onde para mim começaram todos os maravilhamentos e todas as angústias.
Cidade onde sonhei cidades distantes, cidade que habitei e percorri na ilimitada disponibilidade interior da adolescência.
Descia pelo Campo Alegre, passava a Igreja de Lordelo, seguia entre muros de jardins fechados.
Através das grades de ferro dos portões viam-se rododendros, buxos, cameleiras.
Depois surgia um rio e ao longo do rio eu caminhava sobre os cais de pedra, até à barra, até aos rochedos onde se espraiam as ondas.
Histórias de naufrágios, de barcos perdidos, de navios encalhados. Por isso nas noites de temporal se rezava pelos pescadores. Ouvia-se ao longe o tumulto do mar onde navegavam os pequenos barcos da Aguda tentando chegar à praia. Quando a trovoada estava próxima, a luz apagava-se. Então se acendiam velas e se rezava a Magnífica. […]
Porque nasci no Porto sei o nome das flores e das árvores e não escapo a um certo bairrismo. Mas escapei ao provincianismo da capital.
Daqui Houve Nome Portugal, Antologia de verso e prosa sobre o Porto.
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