José Navarro Llorens, Horse-drawn Carriage and Child on the Beach
"Se eu não fosse um físico, provavelmente seria músico. Eu penso sobre música frequentemente. Eu sonho acordado com música. Eu vejo minha vida em termos de música... obtenho mais alegria na vida através da música." - Albert Einstein
Cesária Évora - Mar Azul
Cize, como era conhecida Cesária Évora, nasceu a 27 de Agosto de 1941 no Mindelo - Cabo Verde e veio a falecer em 17 de Dezembro de 2011. Aos 16 anos começou a cantar em bares e hotéis, donde veio a ganhar o epíteto de Rainha das Mornas.
Cesária tinha essa enorme capacidade de através da melodia e pela sua voz, por a alma, de buscar no fundo todo um passado vivido, com uma naturalidade crua e vestida de imensa arte.
Desde a saudade da terra natal, à colonização portuguesa que por via do pai, viveu socialmente as complexas relações sociais, até à emigração escrava de São Tomé.
Voz que também foi ouvida pelos soldados portugueses, em finais dos anos 60 através da rádio, principalmente na Guiné, quando ainda não tinha dimensão internacional.
Deixou de cantar durante uns anos para sustentar a família com o seu trabalho. Mais tarde encorajada pelo conhecido músico Bana, volta a cantar. Mas o salto internacional deu-se quando um empresário luso-francês, José da Silva a encorajou a atuar em Paris, gravando em 1988 o álbum "La diva aux pied nus" (A Diva dos pés descalços). A partir daí ganhou projeção internacional, dando espetáculos um pouco por todo o mundo. Tem o seu ponto alto quando ganha em 2004 o Grammy de melhor álbum de World Music contemporânea.
Fica, em seu registo histórico, dentro de sua passagem nesta vida, a voz e o ritmo, de uma certa maneira de viver e de estar.
Cantava com a alma e o espírito interligados como se de uma ciência complexa fosse.
Sabia da "moenga", aliás a sua música era e é dinâmica. Com um cigarro na mão e um copo de whisky na outra, a sua música é subtilmente entendida no espírito, após o ouvinte passar certas fronteiras de estados de almas... Nesses patamares mais subtis da consciência, sente-se na plenitude, a música de Cesária Évora... Uma verdadeira Diva que atravessa gerações. (Daqui)
"Ver é obra da poesia. Dizer é obra do poema. Dizer bem é artesanato. Mas ninguém pode dizer bem o que viu mal. Um poema puramente artesanal não existe."
"E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?" - José Saramago
“Se quiseres falar ao coração de um homem, conta uma história. Dessas em que não faltam animais, ou deuses e muita fantasia. Porque é assim, suave e docemente que se despertam consciências”. -Jean de La Fontaine
"O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas cobardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses." - José Saramago
"Na Terra tudo vive - e só o homem sente a dor e a desilusão da vida. E tanto mais as sente, quanto mais alarga e acumula a obra dessa inteligência que o torna homem, e que o separa da restante Natureza, impensante e inerte. É no máximo de civilização que ele experimenta o máximo de tédio. A sapiência, portanto, está em recuar até esse honesto mínimo de civilização, que consiste em ter um tecto de colmo, uma leira de terra e o grão para nela semear. Em resumo, para reaver a felicidade, é necessário regressar ao Paraíso - e ficar lá, quieto, na sua folha de vinha, inteiramente desguarnecido de civilização, contemplando o anho aos saltos entre o tomilho, e sem procurar, nem com o desejo, a árvore funesta da Ciência!"
"... Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo: tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência. A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente."
"Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.
À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade."
"Uma nação vive, prospera, é respeitada, não pelo seu corpo diplomático, não pelo seu aparato de secretarias, não pelas recepções oficiais, não pelos banquetes cerimoniosos de camarilhas: isto nada vale, nada constrói, nada sustenta; isto faz reduzir as comendas e assoalhar o pano das fardas - mais nada. Uma nação vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua literatura, pelos seus exploradores científicos, pelos seus artistas. Hoje, a superioridade é de quem mais pensa; antigamente era de quem mais podia: ensaiavam-se então os músculos como já se ensaiam as ideias."
Eça de Queirós, in 'Distrito de Évora'
Vasily Perov (1833-1882), The Hunters at Rest, 1871
"Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são."
Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje, crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura.
Eça de Queirós, in' Correspondência (1891)
Eça de Queirós
José Maria de Eça de Queirós (Póvoa de Varzim, 25 de novembro de 1845 — Paris, 16 de agosto de 1900) foi um dos maiores escritores portugueses e simultaneamente um dos maiores pensadores. Foi autor, entre outros romances de reconhecida importância, de “Os Maias” e “O crime do Padre Amaro”; este último é considerado por muitos o melhor romance realista português do século XIX.
Retratou como ninguém a sociedade e a psicologia dos portugueses, num estilo irónico e humorístico único, presente nos seus romances, crónicas e correspondência. Mais radical nos seus primeiros escritos, mais conservador nos últimos, em todos grassa uma actualidade e uma acutilância que continua a surpreender passados mais de cem anos sobre a sua morte.
A visão e crítica de Eça de Queirós sobre os costumes em geral, e os portugueses em particular, continua surpreendentemente válida nos dias de hoje, provando que a evolução é pouco mais que um conjunto de progressos técnicos, e que as características do povo português, em todos os aspectos da sociedade, se mantêm praticamente iguais.
(also known as A Dead City of the Zuider Zee, Holland)
"O homem que não tem a música dentro de si e que não se emociona com um concerto de doces acordes é capaz de traições, de conjuras e de rapinas." -William Shakespeare
“(…) A única crítica é a gargalhada!
Nós bem o sabemos: a gargalhada nem é um raciocínio, nem um sentimento; não cria nada, destrói tudo, não responde por coisa alguma. E no entanto é o único comentário do mundo político em Portugal.
Um Governo decreta? Gargalhada.
Reprime? Gargalhada. Cai? Gargalhada. E sempre esta política, liberal ou opressiva, terá em redor dela, sobre ela, envolvendo-a como a palpitação de asas de uma ave monstruosa, sempre, perpetuamente, vibrante, e cruel - a gargalhada!
Política querida, sê o que quiseres, toma todas as atitudes, pensa, ensina, discute, oprime - nós riremos. A tua atmosfera é de chalaça.
Obra publicada em 1890-1891, em dois volumes, que reúne os folhetins escritos por Eça de Queirós emAs Farpas, onde o autor traça um panorama crítico da sociedade, da vida política, da religião, da opinião pública, do jornalismo e da literatura do seu tempo - temas tratados com humor e ironia, que atravessam a sua obra de romancista voltada para o inquérito à vida social, sobretudo os romances da fase dita realista-naturalista.
Dos vários artigos, saliente-se, no "Estudo social de Portugal em 1871", o panorama geral da época contemporânea deveras desanimador: "O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. (...) Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida..."). Atente-se, igualmente, pela recorrência do tema na obra de ficção do autor, nos artigos "As meninas da geração nova em Lisboa e a educação contemporânea" e "O problema do adultério", que se debruçam sobre o problema do adultério e das suas causas sociais e morais, quase sempre relacionadas com uma educação mal orientada. Os artigos abordam, contudo, variadíssimas questões, desde reflexões sobre a religião e sobre a educação religiosa, até considerações acerca do exercício do poder político.
No domínio da literatura, Eça critica sobretudo o lirismo convencional e hipócrita do Romantismo tardio, bem como o romance passional, que considera ter consequências negativas na educação feminina. (daqui)