sexta-feira, 17 de maio de 2013

"É tão Suave a Fuga deste Dia" - Poema de Ricardo Reis


George Segal (american, 1924-2000), Three Figures in Red Shirt, from Blue Jeans Series 1975



É tão Suave a Fuga deste Dia


É tão suave a fuga deste dia, 
Lídia, que não parece, que vivemos. 
Sem dúvida que os deuses 
Nos são gratos esta hora, 

Em paga nobre desta fé que temos 
Na exilada verdade dos seus corpos 
Nos dão o alto prémio 
De nos deixarem ser 

Convivas lúcidos da sua calma, 
Herdeiros um momento do seu jeito 
De viver toda a vida 
Dentro dum só momento, 

Dum só momento, Lídia, em que afastados 
Das terrenas angústias recebemos 
Olímpicas delícias 
Dentro das nossas almas. 

E um só momento nos sentimos deuses 
Imortais pela calma que vestimos 
E a altiva indiferença 
Às coisas passageiras 

Como quem guarda a c'roa da vitória 
Estes fanados louros de um só dia 
Guardemos para termos, 
No futuro enrugado, 

Perene à nossa vista a certa prova 
De que um momento os deuses nos amaram 
E nos deram uma hora 
Não nossa, mas do Olimpo. 


Ricardo Reis, in "Odes" 
Heterónimo de Fernando Pessoa


George Segal, Woman in Red Kimono, 1985


"Alague o seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas." 

(Fernando Pessoa)


Untitled (Woman Combing Hair), by George Segal


"O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida."

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego


George Segal, Reclining Nude, 1962, pastel on paper


"Deus concede-nos o dom de viver. Compete-nos a nós viver bem."

(Voltaire)


George Segal, Yellow Nude Reclining




Sem comentários: