É tão Suave a Fuga deste Dia
É tão suave a fuga deste dia,
Lídia, que não parece, que vivemos.
Sem dúvida que os deuses
Nos são gratos esta hora,
Em paga nobre desta fé que temos
Na exilada verdade dos seus corpos
Nos dão o alto prémio
De nos deixarem ser
Convivas lúcidos da sua calma,
Herdeiros um momento do seu jeito
De viver toda a vida
Dentro dum só momento,
Dum só momento, Lídia, em que afastados
Das terrenas angústias recebemos
Olímpicas delícias
Dentro das nossas almas.
E um só momento nos sentimos deuses
Imortais pela calma que vestimos
E a altiva indiferença
Às coisas passageiras
Como quem guarda a c'roa da vitória
Estes fanados louros de um só dia
Guardemos para termos,
No futuro enrugado,
Perene à nossa vista a certa prova
De que um momento os deuses nos amaram
E nos deram uma hora
Não nossa, mas do Olimpo.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
George Segal, Woman in Red Kimono, 1985
"Alague o seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas."
(Fernando Pessoa)
Untitled (Woman Combing Hair), by George Segal
"O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida."
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
George Segal, Reclining Nude, 1962, pastel on paper
"Deus concede-nos o dom de viver. Compete-nos a nós viver bem."
(Voltaire)
George Segal, Yellow Nude Reclining
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