Mário Cesariny, Figuras de Sopro, 1947.
Tinta-da-china, Óleo e Verniz\industrial sobre Platex
Gritar
Aqui a ação simplifica-se
Derrubei a paisagem inexplicável da mentira
Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos
Ponho-me a gritar
Todos falavam demasiado baixo falavam e
[escreviam
Demasiado baixo
Fiz retroceder os limites do grito
A ação simplifica-se
Porque eu arrebato à morte essa visão da vida
Que lhe destinava um lugar perante mim
Com um grito
Tantas coisas desapareceram
Que nunca mais voltará a desaparecer
Nada do que merece viver
Estou perfeitamente seguro agora que o verão
Canta debaixo das portas frias
Sob armaduras opostas
Ardem no meu coração as estações
As estações dos homens os seus astros
Trémulos de tão semelhantes serem
E o meu grito nu sobe um degrau
Da escadaria imensa da alegria
E esse fogo nu que me pesa
Torna a minha força suave e dura
Eis aqui a amadurecer um fruto
Ardendo de frio orvalhado de suor
Eis aqui o lugar generoso
Onde só dormem os que sonham
O tempo está bom gritemos com mais força
Para que os sonhadores durmam melhor
Envoltos em palavras
Que põem o bom tempo nos meus olhos
Estou seguro de que a todo o momento
Filha e avó dos meus amores
Da minha esperança
A felicidade jorra do meu grito
Para a mais alta busca
Um grito de que o meu seja o eco.
Derrubei a paisagem inexplicável da mentira
Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos
Ponho-me a gritar
Todos falavam demasiado baixo falavam e
[escreviam
Demasiado baixo
Fiz retroceder os limites do grito
A ação simplifica-se
Porque eu arrebato à morte essa visão da vida
Que lhe destinava um lugar perante mim
Com um grito
Tantas coisas desapareceram
Que nunca mais voltará a desaparecer
Nada do que merece viver
Estou perfeitamente seguro agora que o verão
Canta debaixo das portas frias
Sob armaduras opostas
Ardem no meu coração as estações
As estações dos homens os seus astros
Trémulos de tão semelhantes serem
E o meu grito nu sobe um degrau
Da escadaria imensa da alegria
E esse fogo nu que me pesa
Torna a minha força suave e dura
Eis aqui a amadurecer um fruto
Ardendo de frio orvalhado de suor
Eis aqui o lugar generoso
Onde só dormem os que sonham
O tempo está bom gritemos com mais força
Para que os sonhadores durmam melhor
Envoltos em palavras
Que põem o bom tempo nos meus olhos
Estou seguro de que a todo o momento
Filha e avó dos meus amores
Da minha esperança
A felicidade jorra do meu grito
Para a mais alta busca
Um grito de que o meu seja o eco.
Paul Éluard, in "Algumas das Palavras"
Tradução de António Ramos Rosa
Paul Éluard
Paul Éluard (pseudónimo de Eugène Emile Paul Grindel; Saint-Denis, 14 de dezembro de 1895 - Charenton-le-Pont, 18 de novembro de 1952) foi um poeta francês, autor de poemas contra o nazismo que circularam clandestinamente durante a Segunda Guerra Mundial.
Participou no movimento dadaísta, foi um dos pilares do surrealismo, abrindo caminho para uma ação artística mais engajada, até filiar-se ao partido comunista francês. Tornou-se mundialmente conhecido como O Poeta da Liberdade.
É o mais lírico e considerado o mais bem dotado dos poetas surrealistas franceses.
Participou no movimento dadaísta, foi um dos pilares do surrealismo, abrindo caminho para uma ação artística mais engajada, até filiar-se ao partido comunista francês. Tornou-se mundialmente conhecido como O Poeta da Liberdade.
É o mais lírico e considerado o mais bem dotado dos poetas surrealistas franceses.
Aos 16 anos, após uma infância feliz, Paul Éluard contraiu tuberculose, o que o obrigou a interromper seus estudos. Na Suíça, no Sanatório de Davos, ele conhece uma jovem russa, Helena Diakonova, que ele chama de Gala. Casa-se com ela em 21 de fevereiro de 1917. Sua impetuosidade, seu espírito decidido, sua cultura impressionam o jovem Éluard, que encontra nela seu primeiro impulso de poesia amorosa. Juntos, eles lêem poemas de Gerard de Neval, Baudelaire e Apollinaire. Em 11 de maio de 1918, nasce sua filha Cecile.
Em 1918, quando a vitória é proclamada, Paul Éluard alia a plenitude de seu amor a um profundo questionamento do mundo: é o movimento Dada que vai disparar este processo, através do absurdo, da loucura, do non-sense.
Amigo íntimo de André Breton, Éluard participa de todas as manifestações dadaístas. Mas ele é o único do grupo a afirmar que a linguagem pode ter um propósito por ela mesma, enquanto os outros a consideram apenas como um “meio de destruição”.
O surrealismo, na sequência, lhe dará os subsídios para sua criação. Muito bem aceite pelos críticos tradicionais da época, atualmente, sua vida confunde-se com o movimento surrealista.
A sua obra é extensa. Com Benjamin Péret, escreve "152 poèmes". Com André Breton, "No defeito do silêncio" e "Imaculada Concepção". Com Breton e René Char, "Trabalhos".
A partir de 1925 apoia a revolta dos Marroquinos. Em 1926, ele ingressa, junto com Aragon e Breton, no partido comunista francês. Nesta mesma época, publica "Capital da dor" (1926) e "Amor e Poesia" (1929). Em 1928, novamente doente, retorna para o sanatório com Gala, onde ela reencontra Salvador Dali e ele conhece Nusch.
Os anos de 1931 a 1935 são os mais felizes de vida de Éluard. Casado com Nusch, ela representa para ele a encarnação da mulher, companheira, cúmplice, sensual, sensível e fiel.
Expulso do partido comunista, ele continua sua luta pela revolução, por todas as revoluções.
Na Espanha, em 1936, ele se insurge contra o movimento franquista. No ano seguinte, o bombardeio de Guernica o inspira a escrever o poema “A Vitória de Guernica”. Durante estes dois anos terríveis para a Espanha, Éluard e Picasso estão sempre juntos. O poeta diz ao pintor: “Você segura a chama entre teus dedos e pinta como um incêndio”.
Em 1940, ele se instala, com Nusch, em Paris e se inscreve, clandestinamente, no partido comunista. Em janeiro de 1942, seu poema “Liberté” (Liberdade), composto por vinte e uma estrofes, é lançado por aviões ingleses sobre a França. Milhares de exemplares, contendo os versos mais famosos de Paul Éluard, chegam às mãos da Resistência francesa e fornecem um novo alento, na luta pela libertação da ocupação nazista.
Nos meus cadernos da escola
Na minha carteira nas árvores
Sobre a areia e sobre a neve
Escrevo o teu nome
Em todas as páginas lidas
Em todas as páginas em branco
Pedra sangue papel ou cinza
Escrevo o teu nome
Na selva e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
Na memória da minha infância
Escrevo o teu nome
Em cada raio da aurora
Sobre o mar e sobre os barcos
Na montanha enlouquecida
Escrevo o teu nome
Na saúde recuperada
No perigo desaparecido
Na esperança sem lembranças
Escrevo o teu nome
E pelo poder de uma palavra
a minha vida recomeça
Eu renasci para conhecer-te
Para dizer o teu nome
Liberdade.
Mário Cesariny, “O opérário”, 1947.
Tinta-da-china, aguada e guache sobre papel colado em platex.
Tinta-da-china, aguada e guache sobre papel colado em platex.
Em 1943, com Jean Lescure, ele reúne textos de poetas da Resistência e publica “A Honra dos poetas”. Frente à opressão, os poetas cantam em coro a esperança e a liberdade. Esta é a primeira antologia de Éluard onde ele mostra seu desejo de abertura e sua vontade de se juntar.
Na Libertação, ele é festejado, junto com Louis Aragon, como o grande poeta da Resistência.
Sempre acompanhado por Nusch, ele participa de inúmeras conferencias. Mas, em 28 de novembro de 1946, ele recebe um telefonema com a notícia da morte repentina de Nusch, em conseqüência de uma congestão cerebral.
Com a ajuda dos amigos, lentamente, Éluard consegue recuperar o “duro desejo de durar” e ele encontra novas forças em seu amor pela humanidade. Em sua obra “Do horizonte de um homem ao horizonte de todos”, pode-se observar a caminho que ele percorreu, do sofrimento à esperança reencontrada.
Em abril de 1948, Paul Éluard e Picasso são convidados a participar do Congresso para a Paz em Wroclaw, Polónia. Em junho, Éluard publica os “Poemas Políticos”. No ano seguinte, participa dos trabalhos do Congresso em Paris como Conselheiro mundial da Paz. No mês de junho, passa alguns dias com os gregos entricheirados no Monte Grammos.
Depois vai para Budapeste, assitir às festas comemorativas do centenário da morte do poeta Sandor Petõfi, onde encontra Pablo Neruda. Em setembro, participa de mais um Congresso da Paz, no México. Conhece Dominique Lemor e se casa com ela em 1951.
Neste mesmo ano, publica “O Phoenix”, obra inteiramente dedicada à alegria reencontrada.
Em novembro de 1952, Paul Éluard morre do coração, em sua casa. Neste dia, segundo Robert Sabatier, “o mundo inteiro estava de luto”.
Fonte: Wikipédia
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