A Primavera
Namorou-se uma princesa
Dum pajem loiro e gentil;
Chamava-se ela – Natureza,
Chama-se o pajem – Abril.
A primavera opulenta,
Rica de cantos e cores,
Palpita, anseia, rebenta
Em cataclismos de flores.
O olhar d’oiro das boninas
Contempla o azul: ao vê-las,
Dir-se-ia que nas campinas
Caíram chuvas d’estrelas.
Entre as sebes orvalhadas
Dos rumorosos caminhos
As madressilvas doiradas
Tapam as bocas dos ninhos.
Tudo ri e brilha e canta
Neste divino esplendor;
O orvalho, o néctar da planta,
O aroma, a língua da flor.
Enroscam-se aos troncos nus
As verdes cobras da hera,
Radiosos vinhos de luz
Cintilam pela atmosfera.
Entre os loureiros das matas,
Que crescem para os heróis,
Dá o luar serenatas
Com bandas de rouxinóis.
É a terra um paraíso,
E o céu profundo lampeja
Com o inefável sorriso
Da noiva ao sair da igreja.
Guerra Junqueiro,
in Tesouro Poético da Infância
de Antero de Quental (Antologia)
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