quinta-feira, 20 de junho de 2019

"Cala-te" - Poema de José Gomes Ferreira


Hanna Hirsch-Pauli, Portrait of  Georg Pauli, c. 1910



Cala-te


Cala-te, voz que duvida
e me adormece
a dizer-me que a vida
nunca vale o sonho que se esquece.

Cala-te, voz que assevera
e insinua
que a primavera,
a pintar-se de lua
nos telhados,
só é bela
quando se inventa
de olhos fechados
nas noites de chuva e de tormenta.

Cala-te, sedução
desta voz que me diz
que as flores são imaginação
sem raiz.

Cala-te, voz maldita
que me grita
que o sol, a luz e o vento
são apenas o meu pensamento
enlouquecido…

(E sem a minha sombra
o chão tem lá sentido!)

Mas canta tu, voz desesperada
que me excede.
E ilumina o Nada
com a minha sede.


José Gomes Ferreira
 (1900-1985)



Georg Pauli, Portrait of his wife Hanna, 1896


Depois 

Será sempre agora.
Viajarei pelas galáxias
universo afora.

Helena Kolody
(Haicai) 

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