quinta-feira, 24 de outubro de 2024

"Mãe" - Poema de Antero de Quental


William-Adolphe Bouguereau (French painter, 1825-1905), The pastoral recreation, 1868.
Private collection


Mãe
 
 
Mãe — que adormente este viver dorido,
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mãos piedosas ate o fio
Do meu pobre existir, meio partido...

Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sítio mais sombrio...
Me banhe e lave a alma lá no rio
Da clara luz do seu olhar querido...

Eu dava o meu orgulho de homem — dava
Minha estéril ciência, sem receio,
E em débil criancinha me tornava.

Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
Se tu fosses, querida, a minha mãe! 


Antero de Quental
, in "Sonetos"
 
 
William-Adolphe Bouguereau, The Bunch Of Grapes (La Grappe de raisin), 1868.
 

"O olhar dos olhos de nossa mãe é parte de nossa alma, é o olhar que nos penetra por nossos olhos."

"Le regard des yeux de notre mère est une partie de notre âme qui pénètre en nous par nos propres yeux."

Alphonse de Lamartine
, Les confidences - Página 25,  Perrotin, 1849
 

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