terça-feira, 15 de outubro de 2024

"Soneto Oco" - Poema de Carlos Pena Filho



Pedro Weingärtner (Pintor, desenhista e gravurista brasileiro, 1853 –1929),
 "O notário", 1892. Coleção particular.



Soneto Oco


Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.

De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.

Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.

Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.


Carlos Pena Filho, "Livro Geral", 1959
 
 
Pedro Weingärtner, "Remorso", 1902

 
"Remorso" (1902) é uma pintura de Pedro Weingärtner inserida no conjunto elaborado pelo artista acerca da Revolução Federalista
O pintor mostra um descampado onde se levantam várias cruzes, num ambiente que devia ter impressionado pela desolação e o que de factos dolorosos evocava.
Ali devia ter havido um sangrento recontro e após a peleja várias cruzes ficaram a assinalar as sepulturas dos vencidos. O homem de cabelo revolto que está ali, ajoelhado diante de uma sepultura, sobre a qual acendeu várias velas, veio trazido pelo remorso. Sobrevivente da luta, despojara dos valores que trazia o cadáver de um combatente que sucumbira e retornou ao antigo campo de batalha pedir perdão a Deus."
 
 Fonte: Pedro Weingärtner 1853-1929: Um Artista Entre o Velho e o Novo Mundo

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