segunda-feira, 7 de outubro de 2024

"O Vento e Eu" - Poema de Mário Quintana

 


Antônio Parreiras (Pintor, ilustrador, escritor e professor brasileiro, 1860–1937),
Ventania, 1888, Pinacoteca do Estado de São Paulo.



O vento e eu


O vento morria de tédio
Porque apenas gostava de cantar
Mas não tinha letra alguma para a sua própria voz,
Cada vez mais vazia…

Tentei então compor-lhe uma canção
Tão comprida como a minha vida
E com aventuras espantosas que eu inventava de súbito,
Como aquela em que menino eu fui roubado pelos ciganos
E fiquei vagando sem pátria, sem família, sem nada neste vasto mundo…
Mas o vento, por isso
Me julga agora como ele…
E me dedica um amor solidário, profundo!


Mário Quintana, in "Velório sem defunto", 1990.

 

Sem comentários: