sexta-feira, 25 de outubro de 2024

"Estranhas aventuras da infância" - Poema de Mário Quintana

 


José Antônio Moreto
 (Pintor brasileiro, n. 1938), Casa da Fazenda, s.d.


Estranhas aventuras da infância


Era um caminho tão pequenino
Que nem sabia aonde ia,
Por entre uns morros se perdia
Que ele pensava que eram montanhas…

Enquanto a tarde, lenta, caía,
Aflitamente o procuramos.
Sozinho assim, aonde iria?
Porém, deixamos para um outro dia…

Perdido e só, nós o deixamos!

E quando, enfim, ali voltamos
Já nada havia, só ervas más…
Tão vasto e triste sentiste o mundo
Que te achegaste, desamparada…

E foi bem juntos que regressamos,
Ombro com ombro, a mão na mão,
Enquanto, lenta, caía a tarde
E nos espiava a bruxa negra…

E nos seguia a bruxa negra
Que hoje se chama Solidão!


Mário Quintana, in "Baú de espantos", 1986.

 

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