Armando Anjos (Pintor português, 1931-2017), Paisagem com lavadeiras, s.d.
Despedida do Outono
Eu já ouvira o apelo do tordo
junto às águas velhas
do rio, ou na luz vidrada
das lentas oliveiras do sul.
Pensava então que não podia morrer
quem tanto amou o claro timbre
das vogais trazidas pelo mar
- o outono, esse morria nas chamas
altas dos castanheiros,
na sonâmbula ondulação
dos rebanhos,
nos olhos das mulheres
de coração fatigado,
semelhantes a ramos partidos
- elas, que foram irmãs do orvalho.
Eugénio de Andrade,
in "Os lugares do lume", 1998.
...jpg)
Armando Anjos (Pintor português, 1931-2017), Paisagem, s.d.
Outono –
Empoleirado num ramo seco
um corvo
in "O Gosto Solitário do orvalho"
SINOPSE
Matsuo Bashō (Japão, 1644-1694), "o eterno vagabundo" - assim lhe chama Jorge de Sousa Braga, autor destas versões portuguesas de "O Gosto Solitário do Orvalho", um volume de haikus, e "O Caminho Estreito", um diário de viagem.
Como diz Eugénio de Andrade ("Rosto Precário"), Bashô, "com um cânone de apenas dezassete sílabas, fez uma das mais esplêndidas poesias de que há memória."
Como diz Eugénio de Andrade ("Rosto Precário"), Bashô, "com um cânone de apenas dezassete sílabas, fez uma das mais esplêndidas poesias de que há memória."
O haiku (JSB) é "um momento único na eternidade: não se repete, nem se desvanece nunca". Bashô é um dos seus maiores executores. Vejam-se dois, de entre muitos:
Uma rã mergulha
no velho tanque...
o ruído da água
no velho tanque...
o ruído da água
Preso na cascata
um instante:
o verão
Matsuo Bashō
Poeta e viajante, Matsuo Bashô nasceu em 1644, na pequena aldeia de Ueno, e morreu a 28 de novembro de 1694. De acordo com a sua última vontade, foi sepultado nos terrenos do mosteiro de Gichu-Ji, nas margens do Lago Biwa, perto de Zeze. Sobre a sua sepultura foi plantada uma bananeira. É considerado o poeta nacional do Japão. (daqui)


Sem comentários:
Enviar um comentário