domingo, 1 de janeiro de 2012

"Contagem decrescente" - Poema de Jorge Gomes Miranda


John French Sloan, Election Night, 1907



Contagem decrescente


Acompanhas a passagem de mais um ano
com humor negro
e juras de mudança de vida.
A teu lado os amigos
comprometem-se – pelo menos esta noite –
a não deixar que diante de ti se abra
um abismo de sujeições.
Mas pouco a pouco
distrai-os a contagem decrescente,
um fogo-de-artifício
no céu televisionado.
Habituaste-te
a acertar as horas
pelo rumor de uma estrela,
acendendo cigarro atrás de cigarro,
embora às vezes ainda esperes
Qualquer recompensa
do tempo inamovível.


Jorge Gomes Miranda,
Postos de Escuta,
 Lisboa, Editorial Presença, 2003
 
 
[Em 1965, no Porto, nasceu Jorge Gomes Miranda. É habitualmente escritor de recensões e ensaios críticos sobre literatura. Publicou três livros de poesia: O que nos protege, Pedra Formosa, 1995; Portadas Abertas, Presença 1999 e Curtas-Metragens, Relógio D'Água, 2002.
No âmbito do Porto 2001, Capital Europeia da Cultura, escreveu uma novela O Transplante, incluída em Registos de uma transformação, Porto, 2001/2002, e organizou duas antologias literárias: Tráfico, antologia crítica da nova literatura portuguesa, e Double Face, antologia de autores portugueses que escreveram sobre a Holanda e de autores holandeses que escreveram sobre Portugal, do século XVI ao século XX.]


Alicia Keys - Empire State Of Mind



"O primeiro sintoma de que estamos matando nossos sonhos é a falta de tempo. As pessoas mais ocupadas têm tempo para tudo. As que nada fazem estão sempre cansadas." - Paulo Coelho


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