quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"Minha Terra" - Poema de António Correia de Oliveira


Jesus Guido, Barcos



Portugal


Minha terra, quem me dera
Ser humilde lavrador.
Ter o pão de cada dia, 
Ter a graça do Senhor:
Cavar-te, por minhas mãos,
Com caridade e amor.

Minha terra, quem me dera
Ser um Poeta afamado.
Ter a sina de Camões,
Andar nas naus embarcado:
Mostrar às outras nações
Portugal alevantado.

Minha terra, quem me dera
Poder ver-te d’um sertão;
Ter-te longe dos meus olhos,
Pertinho do coração:
Para amar-te mais, podendo,
Que me parece que não.

Minha terra, quem me dera
Ser um nauta assinalado;
Passar trabalhos no mar,
Ir à guerra, ser soldado:
Dar por ti todo o meu sangue
De Português desgraçado.


António Correia de Oliveira,
Auto do Fim do Dia. Paris-Lisboa: Livraria Aillaud e Bertrand, 1900.


António Correia de Oliveira
 
António Correia de Oliveira, poeta, autor dramático, jornalista, irmão do escritor João Correia de Oliveira, nascido a 30 de julho de 1878, em S. Pedro do Sul, e falecido a 20 de dezembro de 1960, em Esposende, foi funcionário público. Autor de sucesso no início do século XIX e acarinhado posteriormente pelo regime salazarista, a sua poesia e textos dramáticos - existe neste autor uma nítida contiguidade entre os dois géneros - próximos do gosto popular, refletem alguns vetores temáticos da segunda geração romântica, como o sentimentalismo, a exaltação patriótica, o idealismo cristão, tendo composto uma extensa bibliografia atualmente quase esquecida. Foi um dos poetas oficiosos do Estado Novo, com inúmeros textos escolhidos para os livros únicos de língua portuguesa do sistema de ensino primário e secundário. Colaborador de A Águia, alguns dos volumes de poesia publicados ao longo da primeira década do século conjugam essa tendência neorromântica com o influxo do saudosismo.  Foi o primeiro Português a ser nomeado para o prémio Nobel e a própria concorrente vencedora, Gabriela Mistral, declarou publicamente, no ato solene, que não merecia o prémio, estando presente o autor do “Verbo Ser e Verbo Amar”.
Obras poéticas: Ladainha (1897), Eiradas (1899), Cantigas (1902), Raiz (1903), Ara (1904), Tentações de S. Frei Gil (1907), Elogio dos Sentidos (1908), Alma Religiosa (1910), Dizeres do Povo (1911), Romarias (1912), A Criação. Vida e História da Árvore (1913), A Minha Terra (1915-1917), Na Hora Incerta (Viriato Lusitano) (1920), Verbo Ser e Verbo Amar (1926), Mare Nostrum (1939), História Pequenina de Portugal Gigante (1940), Aljubarrota ao Luar (1944), Saudade Nossa (1944), Redondilhas (1948), Azinheira em Flor (1954).

António Correia de Oliveira. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-12-26].
 

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