quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

"Vegetal e Só" - Poema de Eugénio de Andrade


Vladimir de Leon Llaguno (Cuban painter, b. 1963)
 


Vegetal e Só


É outono, desprende-te de mim.

Solta-me os cabelos, potros indomáveis
sem nenhuma melancolia,
sem encontros marcados,
sem cartas a responder.

Deixa-me o braço direito,
o mais ardente dos meus braços,
o mais azul,
o mais feito para voar.

Devolve-me o rosto de um verão
sem a febre de tantos lábios,
sem nenhum rumor de lágrimas
nas pálpebras acesas.

Deixa-me só, vegetal e só,
correndo como rio de folhas
para a noite onde a mais bela aventura
se escreve exatamente sem nenhuma letra.
in «As palavras Interditas», 1951


Amy Winehouse - Rehab

 
"Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante, engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos aguenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores: como o verdadeiro amor." - Lya Luft 
 
 

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