Hans Heyerdahl (1857-1913), At the Window, 1881
A vida natural - XIX
Aqui desta varanda
espaçosa que dá
sobre um jardim e sobre o imenso largo,
contemplo sossegada
o cair, sobre as coisas,
lento, do dia, o céu por todo lado.
Contraponho o silêncio
desta vida perfeita,
à vida que se vive
na cidade, em tumulto.
A minha pálpebra sustenta o peso
da tarde, que me fecha
num sonho, vagarosa.
Sonhamos o que vemos?
ou somos nós o sonho
daquilo que não vemos no que vemos?
A matéria das coisas
me desmaterializa
ao ponto de me ser inatingível
o sentido de estar,
o sentido de ser
distinto delas. Ah,
quem me é? quem me sabe,
sob este céu de estrelas quentes e úmidas?
Não vivo, sou vivida
na noite, pelas coisas.
em "A vida natural".
Rio de Janeiro: Literatura, 1967.
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