domingo, 11 de fevereiro de 2018

"Vento e Bandeiras" - Poema de Eugenio Montale



Charles-Amable Lenoir (French painter, 1860-1926), "The Pink Rose".



Vento e Bandeiras


A ventania que alçou o amargo aroma
do mar às espirais dos vales,
e te assaltou, desgrenhou teu cabelo,
novelo breve contra o pálido céu;

a rajada que colou teu vestido
e rápida te modulou à sua imagem,
como voltou, tu longe, a estas pedras
que o monte estende sobre o abismo;

e como passada a embriagada fúria 
retoma agora ao jardim o hálito submisso 
que te ninou, estirada na rede, 
entre as árvores, nos teus voos sem asas.

Ai de mim! O tempo nunca arranja duas vezes 
de igual maneira suas contas! E é esta a 
nossa sorte: de outra maneira, como na natureza, 
nossa história se abrasaria num relâmpago.

Surto sem igual, — e que agora traz vida 
a um povoado que exposto
ao olhar na encosta de um morro 
se paramenta de galas e bandeiras.

O mundo existe... Um espanto pára
o coração que sucumbe aos espíritos errantes,
mensageiros da noite: e não pode acreditar
que homens famintos possam ter sua festa.


Eugenio Montale, em Poesias
Tradução  de Geraldo Holanda Cavalcanti


 
Charles-Amable Lenoir, Reflective thoughts, 1912.


"A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata."



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