quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

"Os sentidos" - Poema de Augusto de Lima


Charles Courtney Curran, On the Heights, 1909


Os sentidos


Há uma correspondência que equilibra
todas as formas num consenso eterno:
dos sentidos humanos cada fibra
liga a nossa existência ao mundo externo.

Os olhos querem luz; flores, o olfato;
frutos, o paladar; o ouvido, harpejos;
macia polpa setinosa, o tato;
o coração, afeto; os lábios, beijos.

Há, porém, de outras laços um sistema,
que a natureza em nós conserva inerte:
para a ciência e a fé sempre é problema;
basta, no entanto, um toque que os desperte...

E como vós, ó sensações, outrora
adormecidas no organismo estáveis,
eles dormem também, presos embora
ao turbilhão das cousas impalpáveis.

Cérebro humano, criador da Psique,
centro radial do cosmos consciente,
para que ainda mais perfeita fique,
deixa que as formas Psique nua ostente!


Antônio Augusto de Lima,
em "Laudas inéditas"


Charles Courtney Curran, The Boulder, 1919


"Nem tudo o que enfrentamos pode ser mudado. Mas nada pode ser mudado enquanto não for enfrentado."

(James Baldwin)


Sem comentários: