O problema de um livro é, primeiro, não ser
Pensamentos para ninguém
E ficará tão inescrito
Quanto permanecerá não lido
E construir um autor palavra por palavra
E ocupar sua cabeça
Até que a cabeça feche pra balanço
Para publicar a todos
Seu esvaziamento.
O segundo problema de um livro
É ficar desperto e pronto
À escuta como um dono de pousada
Querendo, não querendo hóspedes,
Indeciso entre a esperança de folga nenhuma
E a esperança de folga.
Vacilantes, as páginas cochilam
E piscam para os dedos que passam
Com sorriso proprietário, e fecham-se.
O terceiro problema de um livro é
Dar seu sermão e virar as costas
Suscitando comoção nas margens
Onde a língua cruza o olho,
Sem declarar nenhuma experiência de pânico,
Nenhuma cumplicidade neste tumulto.
A provação de um livro é não dar pistas
De ser provação, é ser neutro e leigo
No sentido reto do impresso.
O problema de um livro, principalmente,
É ser só livro na superfície;
Vestir capa como capa,
Se enterrar em morte-livro
Mas se sentir tudo menos livro,
Respirar palavras vivas, mas com o hálito
Das letras; endereçar vivacidade
Nos olhos que lêem, ser respondido
Com letras e livrescidade.
Laura Riding, "Mindscapes - poemas"
Seleção, tradução e introdução de Rodrigo Garcia Lopes,
São Paulo: Iluminuras, 2004.
"Um pintor não tem outros inimigos sérios senão os seus piores quadros."
Sem comentários:
Enviar um comentário