terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

"Vulnus" - Poema de Raimundo Correia


 
Albert Joseph Moore (English painter, 1841-1893), Waiting to Cross  
 
 

Vulnus 
 
 
Com bons olhos, quem ama, em torno tudo vê!
Folga, estremece, ri, sonha, respira e crê;
A crença doira e azula o círculo que o cinge;
Da volúpia do bem o grau supremo atinge!
 
Eu também atingi esse supremo grau:
Também fui bom e amei, e hoje odeio e sou mau!
E as culpadas sois vós, visões encantadoras,
Virgínias desleais, desleais Eleonoras!
 
Minha alma juvenil, ígnea, meridional,
Num longo sorvo hauriu o pérfido e letal
Filtro do vosso escuro e perigoso encanto!
 
A vossos pés rasguei tantos castelos! Tanto
Sonho se esperdiçou! Tanta luz se perdeu!...
Amei: nem uma só de vós me compreendeu! 
 
 
em "Sinfonias", 1883


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