domingo, 7 de fevereiro de 2021

"Não tenhas medo do amor" - Poema de Maria do Rosário Pedreira



William-Adolphe Bouguereau
, Invadindo o reino de Cupido, 1893
 


Não tenhas medo do amor


Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão
devagar sobre o peito da terra e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas que ali estão a
crescer: o linho e genciana; as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis; a menta perfumada para
as infusões do verão e a teia de raízes de um
pequeno loureiro que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo. A vida nunca
foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a
tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros: explode no
teu coração um amor-perfeito, será doce o seu
pólen na corola de um beijo, não tenhas medo,
hão de pedir-to quando chegar a primavera.


Maria do Rosário Pedreira

Do livro «O Canto do Vento nos Ciprestes» - Gótica, 2001 
 
 

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