quarta-feira, 8 de março de 2023

"Estudo" - Poema de Francisco Carvalho


 
Artur Timóteo da Costa (Brasil, 1882-1922), European landscape at sunset, 1911 
 


Estudo

 
Subitamente descobrimos o acaso
na nuvem que passa pelo pássaro
ou no pássaro que soturnamente percorre a nuvem.

De repente aprendemos a flor das coisas
e os seus movimentos na paisagem.
De repente trocamos a imagem pela paisagem
a palmatória pela parábola.

De repente descobrimos que os espelhos nos evitam
que o amanhã pertence aos outros
que da janela somos observados
por super-homens de celuloide.
De repente é o metal do amor que silencia
no coração onde tudo é paisagem.

Subitamente compreendemos
que as palavras envelhecem com os homens
que o amor também envelhece
quando as palavras envelhecem.


Francisco Carvalho (1927-2013), in "Os Mortos Azuis", 1971

 

Artur Timóteo da Costa, Pátio com fonte, 1913, óleo sobre madeira
 
 
Calafrio

 
O amor
é um calafrio
que nos percorre
o corpo
e desagua
na foz
de um secreto rio.


Francisco Carvalho, in "As Verdes Léguas," 1979
 

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