Marc Chagall (1887-1985), Lune rousse au Cap d'Antibes, 1969, oil, pastel,
and watercolor on paper, 61.4 x 49.3 cm, coleção particular.
Melancolia
Oh doce luz! oh lua!
Que luz suave a tua,
E como se insinua
Em alma que flutua
De engano em desengano!
Oh criação sublime!
A tua luz reprime
As tentações do crime,
E à dor que nos oprime
Abres-lhe um oceano!
É esse céu um lago,
E tu, reflexo vago
Dum sol, como o que eu trago
No seio, onde o afago,
No seio, onde o aperto?
Oh luz órfã do dia!
Que mística harmonia
Há nessa luz tão fria,
E a sombra que me guia
Neste areal deserto!
Embora as nuvens trajem
De dia outra roupagem,
O sol, de que és imagem,
Não tem essa linguagem
Que encanta, que namora!
Fita-te a gente, estuda,
(Sem medo que se iluda)
Essa linguagem muda...
O teu olhar ajuda...
E a gente sente e chora!
Ah! sempre que descrevas
A órbita que levas,
Confia-me o que escrevas
De quanto vês nas trevas,
Que a luz do sol encobre!
As vítimas, que escutas,
De traças mais astutas
Que as dessas feras brutas...
E as lastimas, as lutas
Da órfã e do pobre!
João de Deus, in 'Ramo de Flores', 1869
Que luz suave a tua,
E como se insinua
Em alma que flutua
De engano em desengano!
Oh criação sublime!
A tua luz reprime
As tentações do crime,
E à dor que nos oprime
Abres-lhe um oceano!
É esse céu um lago,
E tu, reflexo vago
Dum sol, como o que eu trago
No seio, onde o afago,
No seio, onde o aperto?
Oh luz órfã do dia!
Que mística harmonia
Há nessa luz tão fria,
E a sombra que me guia
Neste areal deserto!
Embora as nuvens trajem
De dia outra roupagem,
O sol, de que és imagem,
Não tem essa linguagem
Que encanta, que namora!
Fita-te a gente, estuda,
(Sem medo que se iluda)
Essa linguagem muda...
O teu olhar ajuda...
E a gente sente e chora!
Ah! sempre que descrevas
A órbita que levas,
Confia-me o que escrevas
De quanto vês nas trevas,
Que a luz do sol encobre!
As vítimas, que escutas,
De traças mais astutas
Que as dessas feras brutas...
E as lastimas, as lutas
Da órfã e do pobre!
João de Deus, in 'Ramo de Flores', 1869
Ramo de flores é uma coletânea de poesias líricas, de João de Deus (1830 – 1896), onde sobressai a temática amorosa ("Sede de amor", "Enlevo", "Adeus", "Saudade"), centrada no motivo da mulher sedutora ("Sempre!", "Atração", "O seu nome"). Do ponto de vista formal, as composições primam pela musicalidade, frequentemente associada ao uso das formas métricas e estróficas tradicionais (vejam-se, a título de exemplo, os efeitos do uso do verso tetrassílabo em "Simpatia" ou "Saudade"). O volume contém apreciações críticas à coletânea Flores do Campo, assinadas por Alexandre da Conceição, Luciano Cordeiro, Guiomar Torrezão e Cândido de Figueiredo. (daqui)
João de Deus in 'O Ocidente', 1878
João de Deus de Nogueira Ramos, nascido em São Bartolomeu de Messines no Algarve, ingressou no Seminário de Coimbra, mas a falta de vocação eclesiástica levou-o a cursar Direito. Sem gosto particular pela advocacia tornar-se-ia, por vocação, um ilustre poeta lírico.
João de Deus é autor dos poemas publicados nas coletâneas «Flores do Campo» (1868), «Ramo de Flores» (1869), «Despedidas de Verão» (1880) e «Campo de Flores» (1893).
Viria, porém, a alcançar extraordinária popularidade como pedagogo, pelo seu envolvimento nas campanhas de alfabetização, criando um inovador método de ensino da leitura às crianças, assente na Cartilha Maternal, de sua autoria (1876), aprovado, dois anos depois, como o método nacional de aprendizagem da leitura e da escrita da língua portuguesa.
Foi inumado no Panteão Nacional, em 1966, depois de, no ano da sua morte, os seus restos mortais terem sido depositados na capela do batistério do Mosteiro dos Jerónimos. (daqui)
João de Deus (1830-1896)
João de Deus de Nogueira Ramos, nascido em São Bartolomeu de Messines no Algarve, ingressou no Seminário de Coimbra, mas a falta de vocação eclesiástica levou-o a cursar Direito. Sem gosto particular pela advocacia tornar-se-ia, por vocação, um ilustre poeta lírico.
João de Deus é autor dos poemas publicados nas coletâneas «Flores do Campo» (1868), «Ramo de Flores» (1869), «Despedidas de Verão» (1880) e «Campo de Flores» (1893).
Viria, porém, a alcançar extraordinária popularidade como pedagogo, pelo seu envolvimento nas campanhas de alfabetização, criando um inovador método de ensino da leitura às crianças, assente na Cartilha Maternal, de sua autoria (1876), aprovado, dois anos depois, como o método nacional de aprendizagem da leitura e da escrita da língua portuguesa.
Foi inumado no Panteão Nacional, em 1966, depois de, no ano da sua morte, os seus restos mortais terem sido depositados na capela do batistério do Mosteiro dos Jerónimos. (daqui)
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