(French Impressionist painter, 1849–1883), 1869–70.
A recusa das imagens evidentes
IV
Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.
Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.
Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.
Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exatidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.
IV
Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.
Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.
Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.
Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exatidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.
Natália Correia, Dimensão Encontrada, 1957.
In A rosa do mundo - 2001 poemas para o futuro,
Assírio & Alvim, 2001.
Org. Manuela Correia | Ed. Assírio e Alvim | 2001
A antologia Rosa do Mundo: 2001 poemas para o futuro, organizada por Manuela Correia, com direção editorial de Manuel Hermínio Monteiro, publicada em 2001, pela editora Assírio e Alvim, contou com a colaboração de mais de vinte especialistas. Essa antologia, de quase 2000 páginas, apresenta 2001 poemas de autores das mais diferentes culturas, com o objetivo de trazer “poemas escritos em todas as épocas, em todo o mundo. Palavras límpidas e exatas com que cada um dos poetas escolhidos falou, dalgum modo, de futuro”. De facto, é uma antologia riquíssima, que trata do futuro dialogando intensamente (quase 1/3 da antologia é dedicado às tradições orais) com o passado: “não há futuro sem passado, mas também não haveria passado se, na altura em que foi edificado, não fosse já um desejo de futuro”. Um futuro que se abre com diferentes cosmogonias e avança até o ano de 1945. Desse longo movimento temporal, retornamos à criação, ao poder da literatura, dos autores e dos tradutores que puderam (re)criar em português textos da tradição oral e escrita. Não é exagerado dizer que Rosa do Mundo oferece ao leitor um pequeno tesouro da literatura universal. (daqui)
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