O Banho
Junto à ponte do ribeirão
Meninos brincam nus dentro da água faiscante.
O sol brilha nos corpos molhados,
Cobertos de escamas líquidas.
Da igreja velha, no alto do morro,
O sino manda lentamente um dobre fúnebre.
Na esquina da cadeia desemboca o enterro.
O caixão negro, listado de amarelo,
Pende dos braços de quatro homens de preto.
Vêm a passo cadenciado os amigos, seguindo,
O chapéu na mão, a cabeça baixa.
As botas rústicas, no completo silêncio,
Fazem na areia do chão o áspero rumor de vidro moído.
O sino dobra vagaroso: dobre triste
Na tarde clara que dá pena de morrer.
Cheios do inexplicável respeito pela morte
Os meninos correram para baixo da ponte,
Como se a sua nudez pura pudesse ofender a morte.
Vai agora subindo o morro do cemitério
O caixão negro listado de ouro.
Já não se vê mais, desapareceu atrás do mato.
E na água fugitiva do ribeirão
Os corpos nus cambalhoteiam de novo
Com o sentimento espontâneo e invencível da vida.
Ribeiro Couto (1898-1963),
"Dia longo: poesias escolhidas 1916-43",
Publicado em 1944
Venny Soldan-Brofeldt, Boys Gathering a Fishing Net, 1915–19
"Felizes dos que, relembrando a juventude, não se lembram de factos vergonhosos."
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