domingo, 2 de julho de 2023

"A Fantasia" - Poema de Gonçalves de Magalhães

 
 
Georg Macco (German painter, 1863 - 1933), Frühlingsmorgen (Spring Morning)


A Fantasia

 
 Para dourar a existência
Deus nos deu a fantasia;
Quadro vivo, que nos fala,
D'alma profunda harmonia.

Como um suave perfume,
Que com tudo se mistura;
Como o sol que flores cria,
E enche de vida a natura.

Como a lâmpada do templo
Nas trevas sozinha vela,
Mas se volta a luz do dia
Não se apaga, e sempre é bela.

Dos pais, do amigo na ausência,
Ela conserva a lembrança,
Aviva passados gozos,
E em nós desperta a esperança.

Por ela sonho acordado,
Subo ao céu, mil mundos gero;
Por ela às vezes dormindo
Mais feliz me considero.

Por ela, meu caro Lima,
Viverás sempre comigo;
Por ela sempre a teu lado
Estará o teu amigo. 


[Considerada a obra inaugural do romantismo brasileiro
 
 
 
Gonçalves de Magalhães
 
Escritor e diplomata brasileiro, Domingos José Gonçalves de Magalhães nasceu a 13 de agosto de 1811, no Rio de Janeiro, no Brasil.
Em 1828, matriculou-se no Colégio Médico-Cirúrgico da Santa Casa da Misericórdia, concluindo o curso de Medicina em 1832. Na mesma altura, frequentou as aulas de Filosofia de Monte Alverne, de quem se tornou amigo, no Seminário Episcopal de São José.
Em 1833, partiu para a Europa com o objetivo de aprofundar o seus conhecimentos em Medicina e, após uma viagem pelos países europeus, Gonçalves de Magalhães estabeleceu-se em Paris. Durante a sua estadia na capital francesa, o escritor fundou, em 1836, a revista Niterói: Revista Brasiliense, na qual os escritores manifestavam o desejo de reforma nacionalista na literatura brasileira.
Em 1837, regressou ao Brasil, onde se dedicou ao teatro. No ano seguinte, foi nomeado professor de Filosofia do Colégio Pedro II, lugar que manteve por pouco tempo. Entre 1838 a 1846, foi secretário de Caxias no Maranhão e no Rio Grande do Sul. Em seguida, em 1847, iniciou a sua carreira de diplomata, durante a qual partiu para o Paraguai em missão especial, foi ministro na Áustria, nos Estado Unidos da América, na Argentina, na Santa Fé, e foi designado cônsul-geral e encarregado de negócios interinos nas Duas Sicílias, em Itália. Em 1876, recebeu o título de Visconde de Araguaia. 
Gonçalves de Magalhães escreveu Suspiros Poéticos e Saudades (1836), as tragédias António José ou o Poeta e a Inquisição (1838) e Olgiato (1839), A Confederação dos Tamoios (1856), obra bastante criticada, Os Mistérios (1857), Fatos do Espírito Humano (1858), Urânia (1862), Cânticos Fúnebres (1864), o ensaio Opúsculos Históricos e Literários (1865), A Alma e o Cérebro (1876) e Comentários e Pensamentos (1880). 
Gonçalves de Magalhães, um dos escritores que marca a fase de transição entre o Arcadismo e o Romantismo, influenciado por escritores como Chateaubriand, Manzoni e Lamartini, aborda, na sua fase mais romântica, o desgosto da vida, a infância, a saudade, o amor impossível e a melancolia.
A 10 de julho de 1882, Gonçalves de Magalhães faleceu em Roma, em Itália. Por escolha de um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, Carlos Magalhães de Azeredo, Gonçalves de Magalhães é patrono da cadeira n.º 9 dessa mesma academia. (daqui)
 


Georg Macco
, Südliche Landschaft mit Lavendel (Paysage du sud avec lavandes), 1914.
 
 
"O voar não vem da asa. O beija-flor tão abreviadinho de asa, não é o que voa mais perfeito?"

Mia Couto
, no livro "A Varanda do Frangipani",
1ª ed. da Caminho em 1996; 7ª ed. em 2003
 
 
Mia Couto, "A Varanda do Frangipani"
 
 
Resumo
 
A narrativa de A Varanda do Frangipani decorre na Fortaleza de S. Nicolau, algures em Moçambique. A fortaleza há muito que deixou de ser reduto de defesa e ocupação estrangeira para se transformar num asilo de velhos. A trama policial, as reflexões sobre a guerra e sobre a paz, o Universo mágico, a riqueza de personagens, aliados a uma narrativa pujante e amadurecida, fazem deste livro uma das mais belas obras de Mia Couto. (daqui)

 
 
 
"O mundo não é o que existe, mas o que acontece."

Mia Couto,
no livro "O Último Voo do Flamingo",
1ª ed. da Caminho em 2000; 4ª ed. em 2004; 
(Prémio Mário António de Ficção em 2001)
 
 
Mia Couto, "O Último Voo do Flamingo"
 
 
 
 Resumo

O Último Voo do Flamingo

Tizangara, primeiros anos do pós-guerra. Nesta vila tudo parecia correr bem. Os capacetes azuis já haviam chegado para vigiarem o processo de paz, e o dia a dia da população corria numa aparente normalidade. Mas por razões que quase todos desconheciam, esses mesmos capacetes azuis começaram, de súbito, a explodir. Massimo Risi, o soldado italiano das Nações Unidas destacado para investigar estas estranhas explosões, chega a Tizangara. Colocam-lhe um tradutor à disposição, e é através do relato deste que tomamos conhecimento dos factos. Entramos num mundo de vivos e de mortos, de realidade e de fantasia, de feitiços e de sobrenatural. A verdade e a ficção passam por nós em personagens densamente construídas, de que o feiticeiro Andorinho, a prostituta Ana Deusqueira, o padre Muhando, o administrador Estêvão Jonas e a sua mulher Ermelinda, a velha-moça Temporina, o velho Sulplício, são apenas alguns exemplos... O mistério adensa-se. Os soldados da paz morreram ou foram mortos? (daqui)
 

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