Aguarela de Max Römer, Mirante sobre o porto, Funchal, ilha da Madeira, 1945,
Museu Quinta das Cruzes
Madeira
Quero beijar os teus lábios de pedra,
a água azul e profunda onde os teus
seios sem mácula se unem às minhas
mãos,
quero fundir-me em ti,
minha doce amante do desejo antigo,
quero mergulhar nos cabelos húmidos das
tuas raízes,
quero subir lentamente o teu corpo frio,
fendido,
quero fazer em ti,
nos teus jardins inclinados,
um país de filhos belos, de animais de
silêncio e bondade,
quero regressar a ti,
ao mistério das levadas, das falésias,
dos ventos que batem nos pássaros de aço
e nas tuas tranças,
quero que me toques amorosamente com
os teus dedos esguios,
com as tuas canas doces,
quero o mel, a estrelícia, o pão escuro sobre
as mesas de toalhas loucas bordadas pelas
mulheres de outrora,
senhoras nossas das dores e do entardecer,
quero levar-te comigo para além, para
sempre,
quero que deixes em mim o fruto das tuas
árvores da alegria,
todos os sinais da ternura que o tempo não
consumiu,
minha eterna amante junto ao mar,
quero morrer em ti,
e em ti nascer de novo.
José Agostinho Baptista é um poeta português nascido a 15 de agosto de 1948, no Funchal, Ilha da Madeira. Colaborou em periódicos como Comércio do Funchal, República e Diário de Lisboa, e traduziu Walt Whitman, Tennessee Williams, Yeats, entre outros autores de língua inglesa. Revelou-se nos finais dos anos 70 com Deste Lado Onde, sendo autor de vasta obra como Morrer no Sul, Autorretrato, O Centro do Universo, Paixão e Cinzas, Canções de Terra Distante e Esta Voz é Quase o Vento.
Herdeiro, no pós-modernismo, da poética romântica, António Ramos Rosa aponta na poesia de José Agostinho Baptista uma "essência da subjetividade gerada por um sentido de separação originária", sendo "a perda, ou a substância afetiva da perda, que gera o turbilhão interior que o poema fixa num fulgor esmaecido e na suavidade das suas sílabas musicais" ("José Agostinho Baptista e a radicalidade de separação ontológica" in A Parede Azul, Estudos sobre Poesia e Artes Plásticas, Lisboa, 1991, pp. 115-118).
José Agostinho Baptista foi, a 1 de julho de 2001, condecorado pelo Presidente da República com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, e, em julho de 2006, homenageado com o Grande Prémio APE/CTT 2004, pelo seu livro Esta Voz é Quase o Vento. (daqui)
Herdeiro, no pós-modernismo, da poética romântica, António Ramos Rosa aponta na poesia de José Agostinho Baptista uma "essência da subjetividade gerada por um sentido de separação originária", sendo "a perda, ou a substância afetiva da perda, que gera o turbilhão interior que o poema fixa num fulgor esmaecido e na suavidade das suas sílabas musicais" ("José Agostinho Baptista e a radicalidade de separação ontológica" in A Parede Azul, Estudos sobre Poesia e Artes Plásticas, Lisboa, 1991, pp. 115-118).
José Agostinho Baptista foi, a 1 de julho de 2001, condecorado pelo Presidente da República com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, e, em julho de 2006, homenageado com o Grande Prémio APE/CTT 2004, pelo seu livro Esta Voz é Quase o Vento. (daqui)
"O importante não é a casa onde moramos. Mas onde, em nós, a casa mora."
Mia Couto,
no livro "Um rio chamado Tempo, uma casa chamada Terra"
no livro "Um rio chamado Tempo, uma casa chamada Terra"
Max Römer (1878-1960) foi um pintor alemão, natural de Hamburgo, que chegou à ilha da Madeira em 1922 e aqui faleceu em 1960.
Na Madeira, onde residiu durante trinta e oito anos, Max Römer desenvolveu profícua atividade artística marcada, essencialmente, pela representação da paisagem madeirense, costumes e tradições insulares e suas gentes, explorando e evidenciado as características mais pitorescas e, ainda, alguma incursão pela pintura religiosa. Manteve na sua obra um certo gosto e continuação do naturalismo oitocentista, com laivos de romantismo, mas também é visível alguma modernidade nos apontamentos de gosto pela Arte Nova e Arte Deco. A sua obra foi bem acolhida pela clientela madeirense, quer a nível público e privado, sendo um importante documento iconográfico da Madeira, destacando-se as artes gráficas, como cartazes, postais, ilustrações, capas de revistas e livros, anúncios publicitários, letterings, etc., que contribuíram na promoção e divulgação da Madeira. Destaque-se que Max Römer, como pintor, foi um exímio aguarelista.
É possível observamos obras de sua autoria no Palácio de São Lourenço, Hotel Belmonte (atual Colégio do Infante, Monte), Liceu Jaime Moniz, em diversas igrejas (São Vicente; São João, Fajã da Ovelha, Calheta; Nossa Senhora da Piedade, Porto Santo), além de várias empresas ligadas ao comércio do vinho, bordados e hotelaria. Um número significativo de obras de Max Römer encontra-se no Museu Quinta das Cruzes, doação feita ao Governo Regional da Madeira, em 1984, e em coleções privadas, nacionais e estrangeiras. (daqui)
É possível observamos obras de sua autoria no Palácio de São Lourenço, Hotel Belmonte (atual Colégio do Infante, Monte), Liceu Jaime Moniz, em diversas igrejas (São Vicente; São João, Fajã da Ovelha, Calheta; Nossa Senhora da Piedade, Porto Santo), além de várias empresas ligadas ao comércio do vinho, bordados e hotelaria. Um número significativo de obras de Max Römer encontra-se no Museu Quinta das Cruzes, doação feita ao Governo Regional da Madeira, em 1984, e em coleções privadas, nacionais e estrangeiras. (daqui)
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