sábado, 29 de julho de 2023

"Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto" - Poema de Alberto Caeiro / Fernando Pessoa


 Fortunato Anjos (Pintor português, 1908-2000), Montemor-o-Novo, Castelo, s.d.



Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto

XLIII

Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza.
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
 
7-5-1914 

Alberto Caeiro
, “O Guardador de Rebanhos”.
In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.




"Não o prazer, não a glória, não o poder: a liberdade, unicamente a liberdade."


Bernardo Soares
(Fernando Pessoa), in "Livro do Desassossego, Vol II."
 

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