Armando Aguiar (Pintor português, n. 1964), Ribeira do Porto, s.d.
Sobre a minha cidade
Sobre a minha cidade, falei-te ontem mostrei-te
as esquinas do tempo, a imagem de fachadas
que ainda conheci, de outras que
eu próprio ignorava; sobre
a minha cidade e suas pedras, seus espaços
de árvores graves; e o que foi arrasado,
ou está a desfazer-se; as manchas do presente, a
poluição dos homens; e o que foi
violentamente arrancado por negócios sucessivos,
erros, brutalidades: o que era e o que foi
o que é dentro de mim o seu obscuro,
imaginário ser: costumes e conflitos,
maneiras de falar, a gente
e a confusão das ruas, as casas do Barredo;
sobre a minha cidade achei que tu
tiveste gratidão, a viste.
que percorreste as pontes que da minha
cidade a ti me trazem, entre
gaivotas alastrando e músicas diferentes,
e foste nascer nela.
Vasco Graça Moura, in “Os Rostos Comunicantes”,
Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1984;
“Poesia 1963/1995”, Lisboa: Quetzal Editores, 2007
Armando Aguiar (Pintor português, n. 1964), Cheia em Miragaia (Porto), s.d.
"Afinal, o Porto, para verdadeiramente honrar o nome que tem, é, primeiro que tudo, este largo regaço aberto para o rio, mas que só do rio se vê, ou então, por estreitas bocas fechadas por muretes, pode o viajante debruçar-se para o ar livre e ter a ilusão de que todo o Porto é Ribeira. A encosta cobre-se de casas, as casas desenham ruas, e, como todo o chão é granito sobre granito, cuida o viajante que está percorrendo veredas de montanha."
"Viagem a Portugal" de José Saramago,
Edição/reimpressão: 10-2021,
Editor: Porto Editora
Resumo
Entre outubro de 1979 e julho de 1980, José Saramago percorreu o país lés a lés a convite do Círculo de Leitores, que comemorava o décimo aniversário da sua implantação em Portugal. Disse o autor após essa deambulação, misto de crónica, narrativa e recordações, que «o fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite... É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos».
Este é um livro decisivo para José Saramago, na medida em que se constituiu como um marco que ofereceu ao autor condições materiais para se dedicar à escrita a tempo inteiro. Esta edição especial de
Viagem a Portugal inclui todas as fotografias que Saramago fez ao longo da sua viagem — quase todas inéditas —, a par de fotografias de Duarte Belo, e a sua publicação coincide com o início das comemorações do Centenário de José Saramago.
(daqui)
Afinal, o Porto, para
verdadeiramente honrar o nome que tem, é, primeiro que tudo, este largo
regaço aberto para o rio, mas que só do rio se vê, ou então, por
estreitas bocas fechadas por muretes, pode o viajante debruçar-se para o
ar livre e ter a ilusão de que todo o Porto é Ribeira. A encosta
cobre-se de casas, as casas desenham ruas, e, como todo o chão é granito
sobre granito, cuida o viajante que está percorrendo veredas de
montanha.“
— José Saramago, livro Viagem a Portugal
Viagens. Contos. Romances, José Saramago, Lello & Irmão, 1991,
Fonte: https://citacoes.in/citacoes/2029990-jose-saramago-afinal-o-porto-para-verdadeiramente-honrar-o-nom/?utm_content=cmp-true
Afinal, o Porto, para
verdadeiramente honrar o nome que tem, é, primeiro que tudo, este largo
regaço aberto para o rio, mas que só do rio se vê, ou então, por
estreitas bocas fechadas por muretes, pode o viajante debruçar-se para o
ar livre e ter a ilusão de que todo o Porto é Ribeira. A encosta
cobre-se de casas, as casas desenham ruas, e, como todo o chão é granito
sobre granito, cuida o viajante que está percorrendo veredas de
montanha.“
— José Saramago, livro Viagem a Portugal
Viagens. Contos. Romances, José Saramago, Lello & Irmão, 1991,
Fonte: https://citacoes.in/citacoes/2029990-jose-saramago-afinal-o-porto-para-verdadeiramente-honrar-o-nom/?utm_content=cmp-true
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