Meditações do avô e brinquedos do neto
Ao ver o neto a brincar,
Diz o avô, entristecido,
«Ah, quem me dera voltar
A estar assim entretido!
«Quem me dera o tempo quando
Castelos assim fazia,
E que os deixava ficando
Às vezes pra o outro dia;
«E toda a tristeza minha
Era, ao acordar pra vê-lo,
Ver que a criada já tinha
Arrumado o meu castelo.»
Mas o neto não o ouve
Porque está preocupado
Com um engano que houve
No portão para o soldado.
E, enquanto o avô cisma, e, triste,
Lembra a infância que lá vai,
Já mais uma casa existe
Ou mais um castelo cai;
E o neto, olhando afinal,
E vendo o avô a chorar,
Diz: «Caiu, mas não faz mal:
Torna-se já a arranjar.»
Fernando Pessoa,
em Tesouro da Juventude, c. 1926. (daqui)
[Poema publicado em Tesouro da Juventude, provavelmente por volta de 1926, sob o título ʺMeditações do Avô e Brinquedos do Netoʺ, que terá sido acrescentado pelos editores do jornal, e em O Tico-tico: Jornal das crianças, a 25 de março de 1931, sob o título ʺO Avô e o Netoʺ.]
The New Art Gallery Walsall
"Os brinquedos mais simples, que até bebés sabem operar, chamam-se avós."
Sam Levenson, in "You don't have to be in Who's who to know what's what",
Frase famosa de Sam Levenson: "Talvez eu não saiba o que você fez para merecer isso, mas você sabe".
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