Sophia de Mello Breyner Andresen
Carta de Natal a Murilo Mendes
Querido Murilo: será mesmo possível
Que você este ano não chegue no verão
Que seu telefonema não soe na manhã de Julho
Que não venha partilhar o vinho e o pão
Como eu só o via nessa quadra do ano
Não vejo a sua ausência dia a dia
Mas em tempo mais fundo que o quotidiano
Descubro a sua ausência devagar
Sem mesmo a ter ainda compreendido
Seria bom Murilo conversar
Neste dia confuso e dividido
Hoje escrevo porém para a Saudade
- Nome que diz permanência do perdido
Para ligar o eterno ao tempo ido
E em Murilo pensar com claridade -
E o poema vai em vez desse postal
Em que eu nesta quadra respondia
- Escrito mesmo na margem do jornal
Na baixa - entre as compras de Natal
Para ligar o eterno e este dia.
Carta de Natal a Murilo Mendes
Querido Murilo: será mesmo possível
Que você este ano não chegue no verão
Que seu telefonema não soe na manhã de Julho
Que não venha partilhar o vinho e o pão
Como eu só o via nessa quadra do ano
Não vejo a sua ausência dia a dia
Mas em tempo mais fundo que o quotidiano
Descubro a sua ausência devagar
Sem mesmo a ter ainda compreendido
Seria bom Murilo conversar
Neste dia confuso e dividido
Hoje escrevo porém para a Saudade
- Nome que diz permanência do perdido
Para ligar o eterno ao tempo ido
E em Murilo pensar com claridade -
E o poema vai em vez desse postal
Em que eu nesta quadra respondia
- Escrito mesmo na margem do jornal
Na baixa - entre as compras de Natal
Para ligar o eterno e este dia.
Lisboa, 22 de Dezembro de 1975
Sophia de Melo Breyner Andresen (Porto, 1919-2004)
in O Nome das Coisas (1977)
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