Ilustração de Charles Henry Bennett (Inglaterra, 1829-1867)
O lobo e o cão
Encontraram-se na estrada
um cão e um lobo. E este disse:
— Que sorte amaldiçoada!
Feliz seria, se um dia
como te vejo me visse.
Andas gordo e bem tratado,
vendes saúde e alegria;
ando triste e arrepiado,
sem ter onde cair morto!
Gozas de todo conforto,
e estás cada vez mais moço;
e eu, para matar fome,
nem acho às vezes um osso!
Esta vida me consome…
Dize-me tu, companheiro:
onde achas tanto dinheiro?
Disse-lhe o cão:
— Lobo amigo!
Serás feliz, se quiseres
Deixar tudo e vir comigo:
vives assim porque queres…
Terás comida à vontade,
terás afeto e carinho,
mimos e felicidade,
na boa casa em que vivo!
Foram-se os dois. Em caminho,
disse o lobo, interessado:
— Que diabo é isto? Por que motivo
tens o pescoço esfolado?
— É que às vezes amarrado
Me deixam durante o dia…
— Amarrado? Adeus, amigo!
(disse o lobo) Não te sigo!
Muito bem me parecia
Que era demais a riqueza…
Adeus! Inveja não sinto:
quero viver como vivo!
Deixa-me com a pobreza!
Antes livre, mas faminto,
Do que gordo, mas cativo!
"O Cão e o Lobo" é uma das fábulas de Esopo. La Fontaine adaptou-a, no século XIX, com o nome de "O Lobo e o Cão". Olavo Bilac reeditou essa fábula em forma poética.
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