Hendrick Danckerts, The Old Palace of Whitehall, 1675
Por este anoitecer, o ano acaba
Por este anoitecer, o ano acaba.
Cinzento e azul no céu por entre as árvores,
acaba o calendário. Muitos crimes dele
serão futuras efemérides nos outros
que, folha a folha, acabarão também.
Como anoitece igual este ano às noites
com que, dia por dia, o ano foi passando
gregorianamente. O mundo ocidental,
cesáreo, atlântico, ex-mediterrânico,
conta do Cristo. Mas os outros mundos
também contarão dele, quando este ocidente
deixar de fingir dele — os deuses morrem —
para funções de calendário laico.
O tempo passa, os calendários mudam,
na vida e morte as horas se sepultam.
Cinzento e azul no céu por entre as árvores,
acaba o calendário. Muitos crimes dele
serão futuras efemérides nos outros
que, folha a folha, acabarão também.
Como anoitece igual este ano às noites
com que, dia por dia, o ano foi passando
gregorianamente. O mundo ocidental,
cesáreo, atlântico, ex-mediterrânico,
conta do Cristo. Mas os outros mundos
também contarão dele, quando este ocidente
deixar de fingir dele — os deuses morrem —
para funções de calendário laico.
O tempo passa, os calendários mudam,
na vida e morte as horas se sepultam.
E, no entanto, o tempo vai connosco;
é desta terra só, e só por haver outros
que de outros astros são por haver este
diverso tanto a cada movimento.
Por este anoitecer, o ano acaba.
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