segunda-feira, 25 de março de 2013

"Chegam cedo de mais" - Poema de Maria do Rosário Pedreira


'You Blew Me Away' Sculpture by Penny Hardy



Chegam cedo de mais


Chegam cedo de mais, quando ainda não podem escolher
nem decidir. Vêm carregados de espectros, de memórias
e de feridas que não souberam sarar; mas trazem a confiança
da cura nas palavras. Convencem-se de que amam outra vez

quando nos tocam os pequenos lugares, esquecendo-se do rumo
incerto dos seus passos nas estradas tortuosas que os
trouxeram. Abafam-se num cobertor de mentiras sem saber e
falam de injustiça quando tentamos chamá-los à verdade.

Dormem de vez em quando nas nossas camas e protegemo-los
da dor como aos filhos que não iremos ter nunca
porque não nos resignamos a perdê-los. E, um dia, partem, vão

culpados, não chegam a explicar o que os arrasta. Escrevem
cartas mais tarde – uma ou duas palavras para se aliviarem dessa espada.
E nós ficamos, eternamente, sem vergonha, à espera que regressem.


Maria do Rosário Pedreira



Sculpture by Penny Hardy


Grandes momentos irreversíveis

«Os instantes de grande dor ou de grande agitação, mesmo na história universal, têm uma necessidade que convence; desencadeiam um sentido da actualidade e um sentimento de tensão que nos oprimem. Essa agitação pode provocar seguidamente a vinda da beleza e da luz, assim como da loucura e das trevas; o que se produz reveste, em todo o caso, as aparências da grandeza, da necessidade, da importância; distingue-se e destaca-se dos acontecimentos quotidianos.» 

Hermann Hesse, in 'O Jogo das Contas de Vidro'


 
Hermann Hesse
Alemanha, 1877-1962
Escritor


A sabedoria da velhice

«Aquele que envelhece e que segue atentamente esse processo poderá observar como, apesar de as forças falharem e as potencialidades deixarem de ser as que eram, a vida pode, até bastante tarde, ano após ano e até ao fim, ainda ser capaz de aumentar e multiplicar a interminável rede das suas relações e interdependências e como, desde que a memória se mantenha desperta, nada daquilo que é transitório e já se passou se perde.»
 
Hermann Hesse, in 'Elogio da Velhice'


Sculpture by Penny Hardy


Sculpture by Penny Hardy

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