domingo, 24 de março de 2013

"Dois Meninos" - Poema de Francisco Bugalho


Ferdinand Georg Waldmüller, Depois da escola, 1841.



Dois Meninos


Meu menino canta, canta
Uma canção que é ele só que entende
E que o faz sorrir.

Meu menino tem nos olhos os mistérios
Dum mundo que ele vê e que eu não vejo
Mas de que tenho saudades infinitas.

As cinco pedrinhas são mundos na mão.
Formigas que passam,
Se brinca no chão,
São seres irreais...

Meu menino d'olhos verdes como as águas
Não sabe falar,
Mas sabe fazer arabescos de sons
Que têm poesia.

Meu menino ama os cães,
Os gatos, as aves e os galos,
(São Francisco de Assis
Em menino pequeno)
E fica horas sem fim,
Enlevado, a olhá-los.

E ao vê-lo brincar, no chão sentadinho,
Eu tenho saudades, saudades, saudades
Dum outro menino...


Francisco Bugalho, 
in "Canções de Entre Céu e Terra"


 
Francisco José Lahmeyer Bugalho
 

Francisco Bugalho, poeta português, nascido a 26 de julho de 1905, no Porto, e falecido a 29 de janeiro de 1949, em Castelo de Vide, pai do poeta Cristóvão Pavia, estudou Direito em Coimbra, aí convivendo com o grupo de escritores presencistas. Fixou residência no Alentejo, como funcionário no registo predial de Castelo de Vide. Colaborou em publicações que marcaram a poesia dos anos 30 e 40, como Presença ou Cadernos de Poesia. Herdeiro de Pessoa ipse, pelo desdobramento do eu ("...os fados em mim mesmo depuseram / Razões de ser e de não ser, contrárias / Nas emoções que, dentro de mim, cresceram /Tumultuosas, carinhosas, várias") e pela filiação num lirismo tradicional; descendente de Cesário por uma visão que subjetivamente transfigura a paisagem concreta, a poesia de Francisco Bugalho, em comunhão íntima com a natureza, ora tira dessa ligação um efeito lustral sobre o eu que nela encontra a calma e a eternidade, intuindo o que nela existe de inefável e sobrenatural ou adquire pelo confronto com a paisagem a consciência do seu sofrimento dando voz à dor de pensar, à desistência e ao cansaço.

Francisco Bugalho. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-24].



 
 Ferdinand Georg Waldmüller
 
Ferdinand Georg Waldmüller, Autorretrato, 1828.
 

Ferdinand Georg Waldmüller (Viena, 15 de janeiro de 1793 - Hinterbrühl, 23 de agosto de 1865) foi um pintor e escritor austríaco, um dos artistas austríacos mais importantes na primeira metade do século XIX.
Estudou na Academia de Belas-Artes de Viena, e assegurou a sua subsistência financeira pintando retratos. Em 1811 obteve um posto de professor de artes plásticas junto da prole do conde Gyulay, na Croácia. Três anos depois, regressou a Viena e trabalhou o seu estilo copiando as obras dos grandes mestres.
Waldmüller interessou-se progressivamente pela natureza, e dedicou-se à pintura paisagista. Foi neste género que o seu estilo atingiu a maior originalidade: o seu sentido cromático e o seu bom conhecimento da natureza ajudaram-no a executar telas notáveis.
Waldmüller foi também professor na Academia de Belas-Artes de Viena, mas teve regularmente disputas com a elite vienense em virtude das suas críticas ao sistema da instituição, que queria concentrar no estudo da natureza, num estilo mais naturalista e realista, corrente que encontrava adeptos por toda a Europa. Forçadamente aposentado em 1857, por causa dessas divergências, foi reabilitado em 1863, quando finalmente perceberam que já não era mais possível privar aos alunos da escola, de tão notável ensino.
 

Ferdinand Georg Waldmueller, Autorretrato com lanterna, 1825.
 

Ferdinand Georg Waldmüller, O comerciante, 1824. (Neoclassicismo)



Ferdinand Georg Waldmüller, O operário com seu filho.
 
 
 
Ferdinand Georg Waldmüller, Família de mendigos viajantes é recompensada
 por camponeses em véspera de Natal, 1834.
 
 
Ferdinand Georg Waldmüller, Casamento Camponês, 1843.


Ferdinand Georg Waldmüller, O dia de Corpus Christi, 1857.
(É um exemplo de pinturas Biedermeier evocando crença de harmonia e tradição.)


Ferdinand Georg Waldmüller, Crianças, 1834.


Ferdinand Georg Waldmüller, A sopa claustro, 1858. (Romantismo)


Ferdinand Georg Waldmüller, Peregrinos a descansar, 1859.


Ferdinand Georg Waldmüller, Fim de tarde com rebanho de cabras, 1847.

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