Ferdinand Georg Waldmüller, Amantes surpreendidos, 1858
O Amor, meu Amor
Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.
Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.
E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.
E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.
Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.
Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.
Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.
E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.
E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.
in "idades cidades divindades"
Ferdinand Georg Waldmüller, A Espera, 1860
Não percamos de vista os nossos antepassados
«Quando uma literatura chega a ter êxito, aquilo que nela havia de mais ativo em momentos anteriores torna-se menos claro e é ultrapassado por aquilo que nela é mero produto dessa atividade. É por isso que é bom olhar de vez em quando para trás. Tudo o que em nós há de original conservar-se-á tanto melhor e será tanto mais apreciado, quanto mais formos capazes de não perder de vista os nossos antepassados.»
Johann Wolfgang von Goethe, in 'Máximas e Reflexões'
Johann Wolfgang von Goethe
Alemanha, 1749-1832
Escritor, Cientista, Mestre de Poesia, Drama e Novela
Ferdinand Georg Waldmüller, Árvore perto do riacho
Ferdinand Georg Waldmüller, Árvores no Prater com figuras sentadas, 1833
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