sexta-feira, 29 de março de 2013

"Na véspera de não partir nunca" - Poema de Álvaro de Campos





Na véspera de não partir nunca


Na véspera de não partir nunca 
Ao menos não há que arrumar malas 
Nem que fazer planos em papel, 
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos, 
Para o partir ainda livre do dia seguinte. 

Não há que fazer nada 
Na véspera de não partir nunca. 

Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego! 
Grande tranquilidade a que nem sabe encolher ombros 
Por isto tudo, ter pensado o tudo 
É o ter chegado deliberadamente a nada. 

Grande alegria de não ter precisão de ser alegre, 
Como uma oportunidade virada do avesso. 

Há quantas vezes vivo 
A vida vegetativa do pensamento! 
Todos os dias sine linea 
Sossego, sim, sossego... 
Grande tranquilidade... 

Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas! 
Que prazer olhar para as malas fítando como para nada! 
Dormita, alma, dormita! 
Aproveita, dormita! 
Dormita! 

É pouco o tempo que tens! Dormita! 
É a véspera de não partir nunca! 


Álvaro de Campos, in "Poemas" 
Heterónimo de Fernando Pessoa


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Valentin Rekunenko


"O escritor original, enquanto não está morto, é sempre escandaloso." 

Simone de Beauvoir


Valentin Rekunenko


"Diante de um obstáculo que é impossível de superar, obstinação é estupidez." 

Simone de Beauvoir


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"Se não foste feliz quando jovem, certamente que tens agora tempo para o ser." 

Simone de Beauvoir


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"É o desejo que cria o desejável e o projeto que lhe põe fim."

Simone de Beauvoir


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"É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente." 

Simone de Beauvoir


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"A velhice é a paródia da vida." 

Simone de Beauvoir


 
Simone de Beauvoir
França
1908 // 1986
Escritora/Feminista 

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