sexta-feira, 29 de março de 2013

Expressionismo


Ernst Ludwig Kirchner, Self-Portrait with a Model, 1910


Expressionismo
 
 
O expressionismo foi um movimento artístico e cultural de vanguarda surgido na Alemanha no início do século XX, transversal aos campos artísticos da arquitetura, artes plásticas, literatura, música, cinema, teatro, dança e fotografia. Manifestou-se inicialmente através da pintura, coincidindo com o aparecimento do fauvismo francês, o que tornaria ambos os movimentos artísticos os primeiros representantes das chamadas "vanguardas históricas". Mais do que meramente um estilo com características em comum, o Expressionismo é sinónimo de um amplo movimento heterogéneo, de uma atitude e de uma nova forma de entender a arte, que aglutinou diversos artistas de várias tendências, formações e níveis intelectuais. O movimento surge como uma reacção ao positivismo associado aos movimentos impressionista e naturalista, propondo uma arte pessoal e intuitiva, onde predominasse a visão interior do artista – a "expressão" – em oposição à mera observação da realidade – a "impressão". 

O expressionismo compreende a deformação da realidade para expressar de forma subjectiva a natureza e o ser humano, dando primazia à expressão de sentimentos em relação à simples descrição objetiva da realidade. Entendido desta forma, o expressionismo não tem uma época ou um espaço geográfico definidos, e pode mesmo classificar-se como expressionista a obra de autores tão diversos como Matthias Grünewald, Pieter Brueghel, o Velho, El Greco ou Francisco de Goya. Alguns historiadores, de forma a estabelecer uma distinção entre termos, preferem o uso de "expressionismo" – em minúsculas – como termo genérico, e "Expressionismo" –com inicial maiúscula– para o movimento alemão.

Através de uma paleta cromática vincada e agressiva e do recurso às temáticas da solidão e da miséria, o expressionismo é um reflexo da angústia e ansiedade que dominavam os círculos artísticos e intelectuais da Alemanha durante os anos anteriores à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e que se prolongaria até ao fim do período entre-guerras (1918-1939). Angústia que suscitou um desejo veemente de transformar a vida, de alargar as dimensões da imaginação e de renovar a linguagem artística. O expressionismo defendia a liberdade individual, o primado da subjectividade, o irracionalismo, o arrebatamento e os temas proibidos – o excitante, diabólico, sexual, fantástico ou perverso. Pretendeu ser o reflexo de uma visão subjectiva e emocional da realidade, materializada através da expressividade dos meios plásticos, que adquiriram uma dimensão metafísica, abrindo os sentidos ao mundo interior. Muitas vezes visto como genuína expressão da alma alemã, o seu carácter existencialista, o seu anseio metafísico e a sua visão trágica do ser humano são características inerentes a uma concepção existencial aberta ao mundo espiritual e às questões da vida e da morte. Fruto das peculiares circunstâncias históricas em que surge, o expressionismo veio revelar o lado pessimista da vida e a angústia existencialista do indivíduo, que na sociedade moderna, industrializada, se vê alienado e isolado. 

O expressionismo não foi um movimento homogéneo, coexistindo vários pólos artísticos com uma grande diversidade estilística, como a corrente modernista (Munch), fauvista (Rouault), cubista e futurista (Die Brücke), surrealista (Klee), ou a abstracta (Kandinsky). Embora o seu maior pólo de difusão se encontrasse na Alemanha, o expressionismo manifestou-se também por meio de artistas provenientes de outras partes da europa como Modigliani, Chagall, Soutine ou Permeke, e no continente americano como, por exemplo, os mexicanos Orozco, Rivera, Siqueiros e o brasileiro Portinari. Na Alemanha existiram dois grupos dominantes: Die Brücke (fundado em 1905), e Der Blaue Reiter (fundado em 1911), embora tenha havido artistas independentes e não afiliados com nenhum dos grupos. Depois da Primeira Guerra Mundial surge a Nova Objetividade que, embora tenha sido uma reação ao individualismo expressionista e procurasse a função social na arte, a sua distorção das formas e o seu intenso colorido fazem do grupo um herdeiro directo da primeira geração expressionista. (Daqui)


Ernst Ludwig Kirchner,  Self-Portrait as a Soldier, 1915


Ernst Ludwig Kirchner (Aschaffenburg, 1880 - Davos, Suíça, 1938) foi um pintor expressionista alemão. Foi um dos fundadores do grupo de pintura expressionista Die Brücke. Influenciado pelo cubismo e fauvismo, o pintor alemão deu formas geométricas às cores e despojou-as de sua função decorativa por meio de contrastes agressivos, com o fim de manifestar sua verdadeira visão da realidade. 
Ernst Ludwig Kirchner iniciou seus estudos em arquitetura no ano de 1901 na Technische Hochschule em Dresda. Dentre várias obras, Kirchner realizou trabalhos de decoração de interiores de casas e capelas, mas foi na pintura que mais se destacou, pintou mais de mil quadros. 
O artista foi o integrante de maior expressão do Die Brücke (a ponte), grupo formado em 1905 por quatro estudantes de arquitetura, cujo principal ideal era libertar a arte dos valores formais e tradicionais. A xilogravura foi uma técnica muito utilizada pelo grupo, Kirchner era o executor das xilogravuras para os cartazes e catálogos do Brücke, técnica que aprendeu aos 15 anos com seu pai. Em 1913, o grupo se dissolveu e cada artista seguiu seu caminho dentro da arte. 
As características da xilogravura foram levadas para as outras obras de Kirchner, como a pintura a óleo Amazona Nua (1912), caracterizada por contornos recortados e contraste agressivo entre claro e escuro. 
A bidimensionalidade e a simplicidade são marcas do artista, evidentes nas combinações simples de cor, poucas nuances, falta de perspectiva e motivos sobrepostos. 
A emoção e o tormento individual de Kirchner são expostos em seus trabalhos pelo tipo de pincelada curta e agressiva. Além da influência do fauvismo, revelada na exploração e emoção das cores, e do cubismo, evidente na geometrização das formas, o pintor também foi influenciado pelo pós-impressionismo, sobretudo Van Gogh
O mundo em torno do artista era o tema de seus trabalhos: vista de cidade, paisagens, retratos de seus companheiros, o corpo humano nu e cenas de circo e music-hall. Em 1911 Kirchner e seus amigos mudaram-se para Berlim, época na qual o pintor explorou em seus trabalhos a experiência numa metrópole moderna. As cenas urbanas se fizeram muito presentes na obras do artista, revelando um aspecto de movimento. 
Quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial, Kirchner transmitiu para o seu trabalho as suas perturbações. A destruição da figura humana foi uma das características dessa época. Um exemplo é a obra Auto-retrato como soldado, na qual ele se mostra em primeiro plano com a mão decepada, e no fundo uma modelo nua. O quadro pode ser interpretado como uma metáfora da masculinidade e ao horror da guerra. 
Em 1917, devido ao seu estado emocional, Kirchner é levado para a Suíça pelos seus amigos. Consequentemente o tema de suas pinturas transformou-se com a nova paisagem. As formas recortadas das cenas urbanas dão espaço às linhas horizontais e verticais, transmitindo a sensação de paz e ordem. 
Em 1938, sozinho e doente, o pintor se suicida na cidade de Davos, Suíça. (Daqui)


Galeria de Ernst Ludwig Kirchner
Ernst Ludwig Kirchner, Street in Dresden, 1908


Ernst Ludwig Kirchner, Marcella, 1911


Ernst Ludwig Kirchner, Girl (Fränzi Fehrmann), 1910


Ernst Ludwig Kirchner, Girls, 1910


Ernst Ludwig Kirchner, Artillerymen, 1915


Ernst Ludwig Kirchner, Visit, Couple and Newcomer, 1922


Ernst Ludwig Kirchner, Gerda, Half-Length Portrait, 1914


Ernst Ludwig Kirchner, Fränzi vor geschnitztem Stuhl, 1910


Ernst Ludwig Kirchner, Marcella, 1910


Ernst Ludwig Kirchner, Erna with Cigarette, 1915

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