terça-feira, 14 de maio de 2024

"O Edital" - Poema de Augusto Gil



Karl Witkowski (Polish-American painter, 1860–1910), Boy with an Apple.
 
 

O Edital


Manuel era um petiz de palmo e meio
(Ou pouco mais teria, na verdade)
(De rosto moreninho e olhar cheio)
De inteligente e enérgica bondade.

Orgulhava-se dele o professor...
No porte e no saber era o primeiro.
Lia nos livros que nem um doutor.
Fazia contas que nem um banqueiro...

Ora uma vez ia o Manuel passando
Junto ao adro da igreja. Aproximou-se
E viu à porta principal um bando
De homens a olhar o que quer que fosse.

Empurravam-se todos em tropel
Ansiosos por saberem, cada qual,
O que vinha a dizer certo papel
Pregado com obreias no portal...

"Mais contribuições!" Supunha um.
"É pràs sortes, talvez"... outro volvia.
Quantas suposições! Porém nenhum
Sabia ao certo o que o papel dizia.

Nenhum (e eram vinte os assistentes)
Sabia ler aqueles riscos pretos.
Vinte homens, e talvez inteligentes,
Mas todos, que tristeza — analfabetos!...

Furou Manuel por entre aquela gente
Ansiosa, comprimida, amalgamada,
Como uma formiguinha diligente
Por um maciço de erva emaranhada.

Furou e conseguiu chegar adiante.
Ergueu-se nos pezitos para ver;
Mas o edital estava tão distante,
Lá tanto em cima, que o não pôde ler.

Um dos do bando agarrou-o então
E levantou-o com as mãos possantes
E calejadas de cavarem pão...
Houve um silêncio entre os circunstantes.

E numa clara voz melodiosa
A alegre e insinuante criancinha
Pôs-se a dizer àquela gente ansiosa,
Correntemente o que o edital continha.

Regressava o abade do passal,
A caminho da sua moradia.
Como já era idoso e via mal,
Acercou-se para ver o que haveria...

E deparou com esse quadro lindo
De uma criança a ler a homens feitos;
De um pequenino cérebro espargindo
Luz naqueles cérebros imperfeitos...

Transpareceu no rosto ao bom abade
Um doce e espiritual contentamento;
E a sua boca, fonte de verdade.
Disse estas frases com um brando acento:

Olhai amigos, quanto pode o ensino...
Sois homens; alguns, pais, e até avós,
Pois só por saber ler, este menino
— É já maior do que nenhum de vós!
 

Augusto Gil
, in "Versos", 1898
 
 
Karl Witkowski, Happy Days, 1909


"A alma das crianças é um espelho em que se retrata a natureza."

Cícero citado em "Cintilações" - página 56, Sabino Lino Conte - Editora F.T.D., 1966 - 158 páginas


Karl Witkowski, Guarding The Flower Basket.
Private Collection, New York.



"É vergonhoso insultar uma criança. Ela tem sentimentos, tem sua pequena dignidade e como não pode se defender com isso, é sem dúvida um ato ignóbil ferir tais sentimentos."

Mark Twain,
"Dicas uteis para uma vida futil: Um manual para a maldita raça humana" -
Página 128, Relume Dumará, 2005 - 224 páginas.
 
 
Mark Twain, "Dicas úteis para uma vida fútil:
Um manual para a maldita raça humana." 
 
 
RESUMO
 
"Dicas úteis para uma vida fútil: Um manual para a maldita raça humana." 

Irreverente, charmoso, com um texto adequado para ser muito citado, este manual (um excêntrico guia de etiqueta para a raça humana) contém sessenta e nove aforismos, casos, propostas esquisitas, máximas e advertências de Mark Twain tirados de seus escritos pessoais e publicados. O autor aconselha refletir sobre a vida familiar e as boas maneiras em público; opina sobre roupa, saúde, comida, educação de filhos e proteção da casa, além de temas mais específicos como a melhor maneira de lidar com vendedores e ladrões. Os textos foram selecionados das cartas de Twain, escritos autobiográficos, discursos, romances e diálogos e são deliciosamente novos, irónicos, muito pertinentes e plenos da efervescência característica do autor. Também nos mostram exatamente porque Mark Twain se tornou a mais conhecida voz literária americana no mundo. (daqui)
 

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