quarta-feira, 29 de maio de 2024

"Assim esqueço" - Poema de Pedro Paulo Sena Madureira


Oscar Pereira da Silva (Pintor, desenhista, decorador e professor brasileiro, 1867–1939),
 Retrato do Arquiteto Ramos de Azevedo (Engenheiro-arquiteto, professor e empreendedor
 paulista formado na Bélgica, 18511928), s.d.


Assim esqueço
 
Assim esqueço
e me renego. 

Assim me abro
me aperto
e renasço ou desespero. 

Assim me ergo
no cume deste lume
que não enxergo.

Assim me entrego
me prendo
reaprendo o que sonego.

Assim me transpasso
e integro o aço que me caça
com a brasa de sua acha.

Assim a hora e sua mora
assim do tempo os juros
que pago e não reclamo.

Assim — que não se apaga
— este fogo, cresce e lastra
o laivo túrgido

de um astro que me castra
e no chão fúlgido de minha queda
(urtiga que medra e me exaspera)

de era em era
de pedra em pedra
caído em meu mistério

assim de raiva
e sonho recomeço. 
 
in 'Rumor de Facas'
 

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