quinta-feira, 19 de junho de 2025

"A agonia no jardim" - Poema de Ana Luísa Amaral

 

Vincent van Gogh (Dutch Post-Impressionist painter, 1853–1890), 
Olive Grove, Saint-Rémy, 1889, Gothenburg Museum of Art.


A agonia no jardim

 
A solidão avança como onda,
ausente
toda luz

Saísse eu deste quadro,
poderia tocar o tronco amargo,
os ramos mais esguios dessa oliveira,
libertar-me das mãos

Podia ainda, se quisesse,
inventar vento
aproveitando a chama que ele
ostenta

Devo ceder a quê?
À história que contaram
sobre mim?

Eles não sabem da história mais de dentro,
a que me fez chegar até aqui,
sabendo finalmente:

que dizer sim
era morrer por dentro

que dizer não
era afogar-me nessa longa chama,
numa Palavra –

em mim


Ana Luísa Amaral
, in Ágora
Assírio & Alvim, 2019
 
 

Ágora de Ana Luísa Amaral 
Editor: Assírio & Alvim 
Edição/reimpressão: 10-2019
 

SINOPSE

No mais recente livro de Ana Luísa Amaral, que conta com reproduções a cores de grandes obras de arte de todos os tempos, a poeta apresenta-nos um conjunto de poemas belos e terríveis, comoventes e violentos, em permanente diálogo com a Bíblia e com a arte, mas sobretudo com o nosso tempo.


A Leste do Paraíso

Antes ser tudo e livre
do que bom mas humilde

Assim pensara então
e agira

E o oriente lhe foi destinado:
terra de mil castigos
de difíceis colheitas; mais
suor

Só depois descobriu
que lá o sol nascia
e que podia falar das coisas
todas

Mas com quem?
 

Sem comentários: