Rafał Olbiński (Polish illustrator, painter, and educator, living in the
United States, b. 1943), A labyrinth of hearts.
Labirinto
Em mim te perco, aparição noturna,
Neste bosque de enganos, nesta ausência,
Na cinza nevoenta da distância,
No longo corredor de portas falsas.
De tudo se faz nada, e esse nada
De um corpo vivo logo se povoa,
Como as ilhas do sonho que flutuam,
Brumosas, na memória regressada.
Em mim te perco, digo, quando a noite
Vem sobre a boca colocar o selo
Do enigma que, dito, ressuscita
E se envolve nos fumos do segredo.
Nas voltas e revoltas que me ensombram,
No cego tatear de olhos abertos,
Qual é do labirinto a porta máxima,
Onde a réstia de sol, os passos certos?
Em mim te perco, insisto, em mim te fujo,
Em mim cristais se fundem, se estilhaçam,
Mas quando o corpo quebra de cansado
Em ti me venço e salvo, me encontro em ti.
José Saramago, in Os Poemas Possíveis.
Portugália Ed., 1966.

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