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Gustavo Dall'Ara (Pintor e desenhista italiano que imigrou para o Brasil, 1865-1923),
"Praia do Flamengo", 1917, Coleção José Carlos Bruzzi Castello.
Chega o verão
Vamos abrir as janelas ao vento salgado do mar.
Chega o verão, vagarosa nau, de um trémulo horizonte,
com seu andar de floresta e seus odores enevoados
de resinas espessas e tormentas no alto da tarde.
Nuvens de cupins jorram da sombra, girando em cegueira.
Asas sem peso chovem o arco-íris, semeiam nácar pelos meus dedos.
Oh, por que serão feitas estas mínimas vidas
com tanta perfeição para instantâneas se desfazerem?
Vamos fechar as janelas sobre a noite, com seu vento de fogo.
Aqui vêm, despojados, os cupins pelas mesas,
arrastando-se por entre as próprias asas caídas.
Aqui vêm, num cortejo de desvalidos, de sentenciados...
Oh, dizei-me, dizei-me, que anjos, que santos, que potências
se ocupam desse silêncio movediço, do apressado
itinerário dos moribundos frágeis que passam!
Cecília Meireles,
in Poesia Completa - Dispersos (1918-1964),%20Cais%20do%20mercado,%20Rio%20de%20Janeiro.jpg)
Gustavo Dall'Ara, Cais do mercado, Rio de Janeiro, 1901.
A poesia impossível
Inquietação de marinheiro
Que sente o mar e seu chamado...
Não poder embarcar!
Prisioneiro do nada,
Pássaro mutilado
Que a distância fascina...
Helena Kolody, in "Vida breve", 1964.
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