domingo, 26 de fevereiro de 2017

"As Máscaras" - Poema de Menotti Del Picchia


André Derain (França, 1880-1954), Arlequim e Pierrot, 1924


As Máscaras 


— O teu beijo é tão quente, Arlequim
— O teu sonho é tão manso, Pierrot 

Pudesse eu repartir-me
encontrar minha calma
dando a Arlequim meu corpo…
e a Pierrot a minha alma! 

Quando tenho Arlequim,
quero Pierrot tristonho,
pois um dá-me o prazer,
o outro dá-me o sonho! 

Nessa duplicidade o amor todo se encerra:
um me fala do céu… outro fala da terra! 

Eu amo, porque amar é variar,
e em verdade, toda a razão do amor
está na variedade… 

Penso que morreria o desejo da gente
se Arlequim e Pierrot fossem um ser somente. 

Porque a história do amor
só pode escrever-se assim:
um sonho de Pierrot…
e um beijo de Arlequim! 


(O poema é baseado na fala final de Colombina em 'Máscaras', 1920)


André Derain'Danse bachique', 1906


“O carnaval. A festa onde os tabus perdem força e as permissões tornam-se hiperbólicas.”



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