domingo, 31 de março de 2019

"Independência" - Poema de Jorge de Sena



Vhils, Dame Dorothy Tangney in Fremantle



Independência


 Recuso-me a aceitar o que me derem.
Recuso-me às verdades acabadas;
recuso-me, também, às que tiverem
pousadas no sem-fim as sete espadas.

Recuso-me às espadas que não ferem
e às que ferem por não serem dadas.
Recuso-me aos eus-próprios que vierem
e às almas que já foram conquistadas.

Recuso-me a estar lúcido ou comprado
e a estar sozinho ou estar acompanhado.
Recuso-me a morrer. Recuso a vida.

Recuso-me à inocência e ao pecado
como a ser livre ou ser predestinado.
Recuso tudo, ó Terra dividida! 
(1919-1978), 
in 'Coroa da Terra'



Orelha Negra - M.I.R.I.A.M. - Vhils (Alexandre Farto)


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