quarta-feira, 23 de outubro de 2019

"Anjo da noite" - Poema de Deborah Brennand

Roberto Ploeg, Retrato de Deborah Brennand, 2008 



Anjo da noite

“Dá-me a ilha de Samos como brinde de noivado.”
Bengierd


E sendo o ser todo ser
eu, vetusta ou jovem lusa,
dei o meu olhar de claridade
à vastidão única das brumas
e só no coração uma saudade
era de havidos campos,
campos quase não vistos,
ó enamorado de minha formosura.

Sombria ou ruiva foi a cabeleira
o pouso da coroa em garras.
Abutre no alvor da minha fronte
cravando unhas de diamantes
assim eu disse que as mulheres
não deviam usar trajes escarlates.
Talvez dez dias e oito noites passassem
nas distantes florestas de Lorvão.

E o meu reino era cinzento em culpas,
o meu legado agouro e mal.
Ó enamorado da minha póstuma formosura,
por que de mim tão pouco sabes?


 em "Poesia reunida", 2007


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