sábado, 17 de fevereiro de 2024

"Aranha" - Poema de Carlos Queirós Ribeiro


Thalia Flora-Karavia (Greek artist, 1871–1960), Landscape, s.d.
 


Aranha


À sombra dum cedro imenso
Eis-me a sentir e a pensar;
Mas o que sinto não penso
E o que penso está suspenso
Como uma aranha no ar

No ar balouça, fremente,
Num débil fio invisível
Dessa teia intermitente
Que liga o passado ingente
Ao presente irreversível.

Irreversível instante
O estar aqui na paisagem
Dentro dela e já distante
— Pois o que somos durante
É de nós próprios imagem.

Imagem que se desdobra
Sem que a vontade a detenha
No tempo que nunca sobra.
Viver?… Criar uma obra?…
Oh, o mistério da aranha!


Carlos Queirós Ribeiro (1907-1949), 
in Colectânea de Versos Portugueses do séc. XII ao séc. XX,
 org. de Cabral do Nascimento, Ed. Minerva, Lisboa, 1964.
 
 

Thalia Flora-Karavia, Trees, s.d.


"As árvores parecem indefesas, mas a sua ausência é o nosso castigo, o seu desaparecimento é o pior dos venenos."

Ana Miranda, na crónica "Réquiem para um bosque"


Thalia Flora-Karavia, ‘Forest landscape’, s.d.
 
 
 "Quem fica na floresta um dia, quer escrever uma enciclopédia; quem passa 5 anos, fica em silêncio para perceber o quanto é profunda e complexa a Criação." 
 
Pedro Casaldáliga (1928 - 2020), Revista Mérito. SP,  julho/2007.

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