Oh Céus! Que sinto n'alma! Que tormento!
Que repentino frenesi me anseia!
Que veneno a ferver, de veia em veia,
Me gasta a vida, me desfaz o alento!
Tal era, doce amada, o meu lamento;
Eis que esse deus, que em prantos se recreia,
Me diz: — «A que se expõe quem não receia
Contemplar Urselina um só momento!
«Insano! Eu bem te vi dentre a luz pura
De seus olhos travessos, e co'um tiro
Puni tua sacrílega loucura:
«De morte, por piedade hoje te firo;
Vai pois, vai merecer na sepultura
À tua linda ingrata algum suspiro.»
Que repentino frenesi me anseia!
Que veneno a ferver, de veia em veia,
Me gasta a vida, me desfaz o alento!
Tal era, doce amada, o meu lamento;
Eis que esse deus, que em prantos se recreia,
Me diz: — «A que se expõe quem não receia
Contemplar Urselina um só momento!
«Insano! Eu bem te vi dentre a luz pura
De seus olhos travessos, e co'um tiro
Puni tua sacrílega loucura:
«De morte, por piedade hoje te firo;
Vai pois, vai merecer na sepultura
À tua linda ingrata algum suspiro.»
Bocage (1765 –1805), Sonetos
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