sábado, 3 de fevereiro de 2024

"Poema à Janela" - Cruzeiro Seixas



Cruzeiro Seixas (Poeta e pintor surrealista português, 1920-2020), "Finalidade sem fim", 2004.

 

Poema à Janela

 
Tentemos ainda a inocência.

Gritem os de cima
destes raios negros
tensos no espaço
que somos realmente uns ladrões
tão ricos de pobreza
como os pássaros.

Eu digo que roubei o amor
como roubo agora
todas as riquezas dos outros
e também todas as misérias,
agora a minha própria insónia.

Guardo tudo dentro de mim
a sete chaves
e o meu esqueleto
é feito de todos os objetos
roubados.
 

Cruzeiro Seixas, Obra poética, 
 Edições Quasi
 
 
Cruzeiro Seixas, Personagem estudando o cometa Halley, 1957.
Grafite e tinta da China sobre papel. 
 

Noturno
 

Na cidade, a lua:
a joia branca que boia
na lama da rua. 
 
 
Guilherme de Almeida,
Haicai do Brasil. Org. de Adriana Calcanhotto.
Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014.


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