A Terra
É da terra sangrenta. Terra braço
terra encharcada em raiva e em suor
que o homem pouco a pouco passo a passo
tira a matéria-prima do amor.
Umas vezes o trigo loiro e cheio
outras o carvão negro e faiscante
umas vezes petróleo outras centeio
mas sempre tudo menos que o bastante.
Porque a terra não é de quem a trabalha
porque o trigo não é de quem semeia
e um trabalhador apenas falha
quando faz filhos em mulher alheia.
Quando o estrume das lágrimas chegar
para adubar os vales da revolta
quando um mineiro puder respirar
com as narinas dum cavalo à solta
quando o minério se puder tornar
semente viva de bem-estar e pão
quando o silêncio se puder calar
e um homem livre nunca dizer não.
Quando chegar o dia em que o trabalho
for apenas dar mais ao nosso irmão
quando a fúria da força que há num malho
fizer soltar faíscas de razão.
Quando o tempo do aço for o tempo
da têmpera dos homens caldeados
por pó e chuva por excremento e vento
mas por sua vontade libertados.
Quando a seiva do homem lhe escorrer
por entre as pernas como sangue novo
e quando a cada filho que fizer
puder chamar em vez de Pedro Povo.
As entranhas da terra hão de passar
o tempo da humana gestação
e parir como um rio a rebentar
o corpo imenso da Revolução.
terra encharcada em raiva e em suor
que o homem pouco a pouco passo a passo
tira a matéria-prima do amor.
Umas vezes o trigo loiro e cheio
outras o carvão negro e faiscante
umas vezes petróleo outras centeio
mas sempre tudo menos que o bastante.
Porque a terra não é de quem a trabalha
porque o trigo não é de quem semeia
e um trabalhador apenas falha
quando faz filhos em mulher alheia.
Quando o estrume das lágrimas chegar
para adubar os vales da revolta
quando um mineiro puder respirar
com as narinas dum cavalo à solta
quando o minério se puder tornar
semente viva de bem-estar e pão
quando o silêncio se puder calar
e um homem livre nunca dizer não.
Quando chegar o dia em que o trabalho
for apenas dar mais ao nosso irmão
quando a fúria da força que há num malho
fizer soltar faíscas de razão.
Quando o tempo do aço for o tempo
da têmpera dos homens caldeados
por pó e chuva por excremento e vento
mas por sua vontade libertados.
Quando a seiva do homem lhe escorrer
por entre as pernas como sangue novo
e quando a cada filho que fizer
puder chamar em vez de Pedro Povo.
As entranhas da terra hão de passar
o tempo da humana gestação
e parir como um rio a rebentar
o corpo imenso da Revolução.
Ary dos Santos, in “Obra Poética”,
Lisboa, Ed. Avante, 1994.
Lisboa, Ed. Avante, 1994.
Ary dos Santos,“Obra Poética” - Ano de edição: 10-2017
Editor: Editorial Avante
Editor: Editorial Avante
SINOPSE
José Carlos Ary dos Santos (1937-1984) foi um grande poeta e um enorme declamador. Os seus poemas e canções, de uma imensa riqueza simbólica, farão para sempre parte do património cultural nacional. Militante do Partido Comunista Português de 1969 até à sua morte, foi justamente apelidado de «Poeta de Lisboa e do seu povo, de Portugal e de Abril».
As Edições «Avante!», no ano em que José Carlos Ary dos Santos faria 80 anos de idade, reeditam as antologias Obra Poética e As Palavras das Cantigas, como dois volumes de uma obra ao mesmo tempo popular e erudita, com iguais doses de amor e de luta. (daqui)
Charles Angrand (French artist, 1854–1926), Wheat, Pastel drawing.
"O objetivo principal da agricultura não é cultivar lavouras, mas o cultivo e aperfeiçoamento dos seres humanos."
"The ultimate goal of farming is not the growing of crops, but the cultivation and perfection of human beings."
Masanobu Fukuoka, The One-Straw Revolution,
Masanobu Fukuoka, The One-Straw Revolution,
Published by: Other India Press, Mapusa, Goa, India, 8 edição. 2001, p. 119.
"Meu desejo mais profundo é semear sementes no deserto. Reverter os desertos é semear no coração das pessoas."
"My ultimate dream is to sow seeds in the desert. To revegetate the deserts is to sow seed in people's hearts."
Masanobu Fukuoka, The Road Back to Nature, tradução para o inglês por Frederic P. Metreaud,
Japan Publications, 1987 - 377 páginas, p. 360.
Masanobu Fukuoka, criador do conceito de Agricultura natural.
Masanobu Fukuoka (2 de fevereiro de 1913 - 16 de agosto de 2008) foi um agricultor e microbiólogo japonês, autor das obras A Revolução de uma folha de Palha e A Senda Natural do Cultivo, onde apresenta suas propostas para o plantio direto assim como uma forma de agricultura que é conhecida por agricultura selvagem ou método Fukuoka.
Nos últimos 70-80 anos (desde a década de 40) utilizou o seu método para florestar zonas com tendência a desertificação. Na Tailândia, nas Filipinas, na Índia e em alguns países africanos transformou pequenas regiões desertificadas em áreas verdes. Também iniciou um projeto de reflorestamento na Grécia. Em 1988, recebeu o Prémio Magsaysay (Prémio Nobel da Paz no Extremo Oriente) por sua contribuição para o bem da humanidade. (daqui)
Nos últimos 70-80 anos (desde a década de 40) utilizou o seu método para florestar zonas com tendência a desertificação. Na Tailândia, nas Filipinas, na Índia e em alguns países africanos transformou pequenas regiões desertificadas em áreas verdes. Também iniciou um projeto de reflorestamento na Grécia. Em 1988, recebeu o Prémio Magsaysay (Prémio Nobel da Paz no Extremo Oriente) por sua contribuição para o bem da humanidade. (daqui)
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